“Ética e Corrupção” é o título da primeira sessão do ciclo de conferências “Engenharia e Sociedade”, promovido pelo Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC), no Casino da Figueira da Foz. Esta primeira sessão terá Santos Cabral como orador e irá realizar-se amanhã (15), às 18h00.
Em discussão estará o papel das escolas de engenharia na formação ética de profissionais e na criação de plataformas que tornem os procedimentos mais transparentes.
A engenharia é uma área-chave no combate à corrupção em sectores como a construção e obras públicas, nos quais são frequentes os trabalhos a mais, os desvios de verbas e a necessidade de adjudicações não planeadas.
Segundo Santos Cabral, ex-director da Polícia Judiciária e juiz conselheiro jubilado, as metodologias próprias da engenharia, assim como o uso das tecnologias digitais, devem ser instrumentos cruciais para combater as corrupções e restituir à sociedade a confiança nos poderes públicos.
Segundo Santos Cabral, “a ética na engenharia é uma arma fundamental contra a corrupção”. Para o orador da conferência, a chave para diminuir os níveis de corrupção está muito dependente de dois factores, ambos ligados à engenharia: os valores éticos dos engenheiros e as suas capacidades técnicas para desenvolverem mecanismos de prevenção e detecção de irregularidades em áreas como a construção civil e obras públicas.
Também Mário Velindro, presidente do ISEC, defende que a engenharia pode ser uma forte ferramenta no combate à corrupção em mercados como o da construção, nomeadamente através do modelo BIM – a representação virtual de todo o ciclo de construção de um edifício. “Com este modelo é possível simular todas as fases de uma obra, antever possíveis contratempos e acompanhar com mais fiabilidade os recursos que estão a ser utilizados no projecto, comparando-os com os que estavam previstos no orçamento”, afirma. “O BIM controla a obra do ponto de vista da qualidade, do prazo de entrega e dos custos. Desta forma, torna-se mais difícil ocultar e inflacionar despesas”.
Segundo o presidente do ISEC, a evolução tecnológica ligada à engenharia irá conduzir a uma redução progressiva da corrupção. “A digitalização dos serviços na administração pública irá permitir uma verdadeira transparência em todas os negócios, ao saber-se com precisão quais as alterações realizadas nos serviços ou quem acedeu/alterou documentos, por exemplo”.
Mário Velindro destaca ainda o papel que as escolas de engenharia devem assumir no cumprimento deste objectivo. “As universidades e os politécnicos têm de aproveitar o seu potencial científico para criarem soluções tecnológicas com aplicação prática nas empresas e organizações.
Este é o caminho que o ISEC está a seguir!”, afirma Mário Velindro.
Mais ética no ensino superior
“A formação de quadros qualificados permite que o tecido empresarial tenha colaboradores com um forte conhecimento técnico em diferentes áreas. No entanto, para além de transmitir conhecimento teórico- prático, o ensino superior tem que começar a incluir ‘ética’ e ‘moral’ na formação que oferece aos estudantes”, afirma Santos Cabral. “Só assim é possível construir uma sociedade mais justa e fraterna, guiada pelos valores da justiça e equidade”.
Por essa razão o ISEC decidiu reforçar a sua ligação à Ordem dos Engenheiros e irá começar a organizar sessões semestrais de Ética e Deontologia para os seus estudantes. O objectivo é esclarecer o regulamento de ética da profissão, demonstrando quais os procedimentos morais que devem ser adoptados em caso de corrupção em contexto laboral.
Segundo Santos Cabral, a corrupção é um dos problemas centrais de Portugal. “E está presente em todos os escalões da sociedade! A nossa entrada na Comunidade Económica Europeia – actual União Europeia – já trouxe a Portugal milhares de milhões de euros, mas uma parte desse dinheiro foi desviado”, afirma. “Se não fosse a corrupção, podíamos ter um país muito diferente, muito mais próspero. Daí ser tão importante encontrar soluções para diminuir este flagelo”.