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Sindicato Independente dos Médicos

Desqualificação dos Covões – Um caminho para a desqualificação da saúde em Coimbra?

17 de Julho 2020

Covões entrada

Temos assistido desde a génese do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), ao progressivo desmantelamento e desqualificação do Hospital Geral dos Covões.

Quando muitos esperavam o aproveitar de sinergias entre as duas grandes estruturas hospitalares que lhe deram origem, assistimos ao desmantelamento de um (Hospital dos Covões), ao sobrecarregar do outro (Hospital da Universidade de Coimbra), a uma gestão perigosamente inconsciente das duas maternidades.

Os episódios mais recentes do desmantelamento de um Hospital Central – o Hospital dos Covões, passam pelo encerramento do seu Serviço de Cardiologia, do Serviço de Pneumologia, dos entraves à actividade cirúrgica e ameaças de encerramento do seu Serviço de Urgência.

No Serviço de Cardiologia do CHUC foram encerrados recentemente, os seguintes Sectores do Serviço presentes no Hospital dos Covões:

– Enfermaria e Unidade de Cuidados Intensivos Coronários (UCIC), moderna e devidamente apetrechada;

– Diminuição significativa da actividade na Unidade de Hemodinâmica.

Realçar ser do conhecimento do SIM, terem os Cardiologistas do CHUC manifestado por escrito ao seu Director de Serviço e Conselho de Administração, a sua oposição da situação actual do Serviço, pedindo a reabertura das suas Unidades nos Covões, com plano adequado de funcionamento e apoio das especialidades médicas necessárias.

A actividade do Serviço de Cardiologia foi concentrada no pólo HUC, onde estão neste momento 17 internos. O encerramento da UCIC nos Covões obrigou à hipertrofia da unidade equivalente nos HUC, que passou a dispor de 30 camas, muitas vezes com presença de apenas um Cardiologista. Os doentes observados no pólo Hospital dos Covões, quando necessário, têm de ser transferidos para a Urgência do HUC, onde ficam por vezes horas a aguardar internamento em Cardiologia.

O Serviço de Pneumologia perdeu cerca de 30 camas desde Setembro de 2019, viu reduzido o corpo clínico nos Covões e sua concentração nos HUC. Este processo não foi acompanhado de qualquer ganho em saúde ou financeiro.

O Serviço de Cirurgia perdeu desde a fusão, metade do seu internamento nos Covões e redução significativa do seu quadro clínico. A actividade cirúrgica foi drasticamente reduzida para os Cirurgiões dos Covões, com incremento das listas de espera.

O Serviço de Urgência nos Covões com instalações funcionais, que oferecem condições de assistência digna a quem a elas recorre, tem sido desqualificado desde a fusão, havendo agora a ameaça da sua desqualificação em Urgência básica e posterior encerramento.

Na prática e contra as disposições da ARS Centro, o Serviço de Urgência dos Covões é já um Serviço de Urgência básica, por lhe terem sido retiradas a Ortopedia, a Cirurgia e brevemente a Cardiologia. Tudo isto enquanto há um projeto de oito milhões de Euros, para a ampliação e requalificação da Urgência dos HUC.

A situação descrita merece de todos nós a reflexão sobre o futuro dos Serviços de Saúde na Região Centro e de Coimbra.

Será o desqualificar e o encerramento de Serviços no Hospital dos Covões, a ante visão daquilo que virá a acontecer nos HUC? Desqualificar os Covões como primeiro passo para desqualificar os HUC?

Basta pensar que a eliminação de Serviços Clínicos e de camas de internamento terá como consequência inevitável a diminuição das capacidades formativas num número significativo de especialidades médicas, e na capacidade em fixar médicos na Região Centro, em benefício das grandes centralidades de Lisboa e Porto.

Pelo Secretariado Regional do SIM/Centro

José Carlos Almeida