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Médicos do Centro consideram reforma dos cuidados primários o desafio do SNS

3 de Abril 2023 Jornal Campeão: Médicos do Centro consideram reforma dos cuidados primários o desafio do SNS

O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) considerou hoje que a reforma dos cuidados de saúde primários é o desafio que se coloca à direcção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Para Manuel Teixeira Veríssimo, o SNS “não voltará a recuperar fôlego se não houver essa reforma de fundo, que não são pensos rápidos, em que tem de haver um fortalecimento dos cuidados de saúde primários e o desvio da centralidade do sistema de saúde para os cuidados primários”.

O médico, que desde Janeiro dirige a SRCOM, explicou que esta é a forma de “retirar um pouco a dependência ‘hospitalocêntrica’ que sempre houve, precisamente para que os doentes deixem de ir à urgência”.

“A ida dos doentes para as urgências centrais é uma questão de organização. O sistema está mal-organizado, de modo que não permite ou não dá condições para que os cuidados de saúde primários possam reter os doentes e evitar que caiam num serviço de urgência”, salientou.

O problema das urgências, na opinião de Manuel Teixeira Veríssimo, não se resolve “com aumento das áreas, nem do número de pessoas nos serviços de urgência”, mas sim com a reforma dos cuidados de saúde primários.

“O problema resolve-se actuando na periferia, nos cuidados de saúde primários, mas para isso vamos precisar de um número de profissionais necessário que terão de ter condições para fazer diagnósticos, com meios auxiliares, isso é fundamental, e terão de estar abertos durante mais tempo, para que as pessoas deixem de ir à urgência”, defendeu.

Para o presidente da SRCOM, “o grande desafio da direcção executiva do SNS é mexer na estrutura, pelo que é importante que se faça essa reforma, sem a qual não se resolve o problema das urgências”.

Manuel Teixeira Veríssimo rejeitou que Portugal tenha médicos a menos, apesar de reconhecer o fenómeno da emigração nos profissionais mais jovens e a falta de clínicos nas unidades do sector público.

“No país, não temos médicos a menos, temos é médicos a menos no SNS. Uns vão trabalhar para o privado e outros emigram, mas especialmente porque o SNS não tem sabido ser atractivo para os médicos, sobretudo para os jovens médicos”, sustentou.

Salientando que esta é uma situação que tem de mudar, o presidente da SRCOM foi taxativo: “Há médicos em Portugal e estou certo que se lhe oferecerem boas condições eles não preferem o privado ou ir para o estrangeiro”.

Este problema entronca também na questão da valorização das carreiras médicas, uma das áreas prioritárias do programa de acção de Manuel Teixeira Veríssimo, que considerou a recuperação das carreiras médicas como fundamental para o equilíbrio do SNS.

Também a fusão dos hospitais em Coimbra, iniciativa que em 2011 criou o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), mereceu criticas. Manuel Teixeira Veríssimo  defendeu que, na altura, devia ter sido elaborado um plano “das mais-valias que daí pudessem advir, que teriam de ser seguramente para a população, em primeiro lugar, mas também para os profissionais e para o erário público”.

“Era isso que se esperava que uma fusão trouxesse e pelo que me vou apercebendo não trouxe nenhuma dessas melhorias – nem poupança de dinheiro, nem benefícios para os profissionais de saúde nem para os doentes”, afirmou Manuel Teixeira Veríssimo.

Para o médico especialista, tratou-se de uma fusão “seguramente mal planeada e o que se exigia nessa altura é que tivesse sido feito um plano a médio prazo, em que claramente se dissesse o que se ia fazer, sempre com o objectivo de haver mais-valia para a população, o que não aconteceu”.

O CHUC resultou da fusão dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que geria a Maternidade Daniel de Matos, com o Centro Hospitalar de Coimbra, constituído pelo Hospital Geral (Covões), Hospital Pediátrico, Maternidade Bissaya Barreto e Hospital Sobral Cid.

Relativamente à construção da nova maternidade em Coimbra, para substituir as duas que existem actualmente – Daniel de Matos e Bissaya Barreto – Manuel Teixeira Veríssimo considerou que é um assunto “que devia estar resolvido há muitos anos”.

Quanto à sua localização, que foi alvo de polémica, o presidente da SRCOM defendeu que “há 10 ou 15 anos podia ter sido perfeitamente construída junto ao Hospital dos Covões, com vantagens, já que tinha mais espaço, local para estacionamento e era uma área menos afogada”.