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Uma em cada três mulheres foi vítima de violência íntima ou sexual ao longo da vida

19 de Novembro 2025 Jornal Campeão: Uma em cada três mulheres foi vítima de violência íntima ou sexual ao longo da vida

Uma em cada três mulheres em todo o mundo foi vítima de violência íntima ou sexual ao longo da vida, alertou hoje a Organização Mundial da Saúde (OMS), classificando esta realidade como uma das crises de direitos humanos mais persistentes e negligenciadas.

O número corresponde a cerca de 840 milhões de mulheres, embora a organização reconheça que muitos casos nunca chegam a ser denunciados. Segundo o relatório divulgado, elaborado em cooperação com várias agências das Nações Unidas, os níveis de violência têm-se mantido praticamente inalterados desde o ano 2000.

“A violência contra as mulheres continua a ser uma das crises de direitos humanos mais persistentes e negligenciadas do mundo, com muito pouco progresso em duas décadas”, sublinha o documento, publicado a menos de uma semana do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres e Raparigas, assinalado a 25 de Novembro.

Só no último ano, 316 milhões de mulheres com 15 ou mais anos sofreram violência física ou sexual por parte de um parceiro íntimo. A OMS lamenta que o progresso na redução desta forma de violência seja “penosamente lento”, registando-se uma queda anual média de apenas 0,2% nas últimas duas décadas.

Pela primeira vez, o estudo inclui também estimativas nacionais e regionais sobre violência sexual cometida por pessoas que não são parceiros íntimos. Os dados apontam para 263 milhões de mulheres com mais de 15 anos que já foram alvo deste tipo de agressão. Os especialistas alertam, contudo, que o número real é significativamente mais elevado devido ao estigma e ao medo que impedem muitas vítimas de apresentar queixa.

“A violência contra as mulheres é uma das injustiças mais antigas e disseminadas da humanidade, e ainda assim uma das menos combatidas”, afirma o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Nenhuma sociedade se pode considerar justa, segura ou saudável enquanto metade da sua população vive com medo”, acrescenta, defendendo que pôr fim a esta realidade é uma questão de dignidade, igualdade e direitos humanos.

O relatório analisa dados de 168 países, recolhidos entre 2000 e 2023, e conclui que a resposta global continua “claramente subfinanciada”. Em 2022, apenas 0,2% da ajuda pública ao desenvolvimento foi atribuída a programas de prevenção da violência contra as mulheres — valor que voltou a cair em 2025.

A prevalência da violência varia significativamente entre regiões. A Oceânia (excluindo Austrália e Nova Zelândia) apresenta a taxa mais elevada de violência por parceiro íntimo no último ano, com 38%, mais do triplo da média global (11%). Seguem-se o Sul da Ásia (19%), a Ásia Central e Meridional e os Países Menos Desenvolvidos (18%), bem como a África Subsaariana e os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (17%). No Norte de África, a prevalência atinge os 16%, descendo para 8% no Leste e Sudeste Asiático. A América Latina e Caraíbas regista 7%, enquanto a Europa e a América do Norte apresentam a taxa mais baixa, de 5%.

Apesar das diferenças regionais, a OMS apela a todos os países para reforçarem a recolha de dados, responsabilizarem os agressores e adoptarem políticas eficazes de prevenção. Persistem “lacunas significativas” de informação, sobretudo no que diz respeito à violência sexual perpetrada por não-parceiros e à realidade de grupos marginalizados, incluindo mulheres indígenas, migrantes e mulheres com deficiência.

A organização insta ainda os governos a ampliarem os programas de prevenção, fortalecerem os serviços de apoio — de saúde, jurídicos e sociais — e a aplicarem leis que promovam o empoderamento das mulheres e das raparigas. “Por detrás de cada estatística existe uma mulher ou rapariga cuja vida foi alterada para sempre”, recorda Tedros, sublinhando que o empoderamento feminino é “um pré-requisito para a paz, o desenvolvimento e a saúde”.