Coimbra  4 de Outubro de 2025 | Director: Lino Vinhal

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Viaduto do IC2 sobre o Choupal: diagnóstico certo, solução errada

2 de Outubro 2025 Jornal Campeão: Viaduto do IC2 sobre o Choupal: diagnóstico certo, solução errada

De forma envergonhada (porque será?), o atual executivo introduziu na campanha eleitoral a proposta da construção do viaduto do IC2 sobre a Mata Nacional do Choupal. Começou por colocar um cartaz na Rotunda do Almegue a prometer uma nova ponte sobre o Mondego: só se esqueceu de dizer que a ponte, que é um enorme viaduto com uma extensão total de cerca de 1300 metros, atravessa o Choupal.
Posteriormente, em artigo de opinião publicado nos jornais locais, José Manuel Silva e Ana Bastos apresentam a construção da nova ponte como solução  “benigna” para resolver os congestionamentos de trânsito na Rotunda do Almegue. Começam por fazer um diagnóstico muito acertado da sua principal causa: 60% do trânsito que chega à rotunda é trânsito de atravessamento que não se destina diretamente a Coimbra, mas que circula pelo centro da cidade via IC2. Surpreendentemente, o diagnóstico acertado gera depois uma solução aberrante e lesiva para o património natural e cultural da cidade: em vez de encontrar e propor soluções que desviem esse mesmo trânsito indesejável do centro da cidade, o Juntos Somos Coimbra quer perpetuar o tráfego de atravessamento no centro de Coimbra, propondo para tal sacrificar o Choupal. Em suma, em vez de afastar o trânsito indesejável do centro da cidade, estende o tapete ao trânsito de atravessamento à custa do maior sumidouro de carbono da cidade. Já agora, alguém se lembra de alguma medida tomada por este executivo para melhorar a fluidez de tráfego na Rotunda do Almegue nos últimos 4 anos? Nem sequer o estudo de semaforização que constava do programa eleitoral do atual executivo foi realizado. Parece sim existir uma política de terra queimada, que conviveu bem com o caos diário das filas de trânsito, para agora justificar a opção da ponte no Choupal.
No artigo fica também patente a total falta de sensibilidade ambiental que marcou todo o mandato de José Manuel Silva. Achar que um viaduto automóvel com milhares de veículos a lançar poluição sonora e de partículas sobre a Mata Nacional do Choupal – 24 horas por dia – não terá impactos significativos sobre a flora e a fauna do Choupal fala por si e talvez ajude a explicar a razão pela qual cresceram tanto as ilhas de calor em toda a cidade nos últimos 4 anos. Será que José Manuel Silva ignora que este mesmo projeto já teve uma avaliação ambiental negativa em 2009? Mais, porque não refere o Presidente que, para além da ponte do IC2 que propõe, está também projetada a nova ponte ferroviária da Alta Velocidade, também esta com fortes impactos na mata? Estamos na realidade a falar de duas pontes novas no Choupal.
Ninguém ignora que há um problema de congestionamento de trânsito na Rotunda do Almegue que urge ser resolvido, mas a solução não passa por separar fluxos de tráfego automóvel com mais vias, como se fez no passado. Por regra, este tipo de opções só resulta em mais automóveis. O que há a fazer é  tirar carros da Rotunda! Menos carros, menos filas! A solução implica implementar várias medidas complementares entre si. Desde logo, abolir as portagens entre Coimbra Norte e Condeixa e proibir o trânsito pesado de atravessamento pelo Almegue. Esta medida não é eleitoralista como diz o Presidente, é apenas uma forma inteligente de gerir a rede rodoviária existente, poupando milhões ao erário público e com resultados imediatos. Outra medida é a solução “Coldplay”, dotar o tabuleiro da Ponte de Açude de uma faixa de aceleração, que José Manuel Silva, o autarca que em tempos passados ameaçou cortar o IP3 (lembram-se?), deixou de defender perante um simples “não” das Infraestruturas de Portugal. Esta medida teria ganhos muito significativos na Casa do Sal. A já referida semaforização da Rotunda do Almegue que o executivo não realizou pode ter o mesmo impacto que a semaforização teve em tempos na Casa do Sal. Finalmente, o dinheiro gasto no viaduto seria muito melhor investido a finalizar o troço da A13 entre Ceira e a Pampilhosa do Botão, desviando milhares de carros do centro de Coimbra ou na antecipação do alargamento da rede de  MetroBus a Condeixa ou ainda na construção do Anel da Pedrulha ou da Via Estruturante Santa Clara / São Martinho.  E, se tudo isto não for suficiente, há outras soluções de engenharia a considerar, nomeadamente sobrelevar a ligação IC2–Ponte Açude: atravessamento em desnível (IC2 por cima; tráfego local por baixo).
Um político sensato e comprometido com o ambiente nunca avançaria para soluções com os impactos que a ponte terá sobre a Mata Nacional do Choupal sem primeiro esgotar todas as alternativas. Infelizmente, sensatez e, já agora capacidade de diálogo, não são  o forte deste executivo, como se sabe.

Miguel Dias (Membro do ClimAção Centro)