De facto, é difícil aceitar como prioritário votar em pessoas (muitas) que vão para a Europa sem o sentido patriótico de promover a unidade das forças políticas por Portugal, sem defenderem propostas para o Desenvolvimento Sustentável no nosso País, sem assumirem causas demonstradas de apego à solidariedade social em palavras e actos.
Os eleitores abstencionistas e indecisos ponderam estas razões, e delegam nos outros as responsabilidades de ter uma Europa em guerra para a qual não se vê a luz ao fundo do túnel, de permitir um genocídio em Gaza e não assumir o direito a dois Estados (israelita e palestiniano), de enfrentar um fluxo migratório para a Europa (como já houve da Europa para África), de persistir uma assimetria salarial na União Europeia (UE) causada pelo escasso PIB, pelo frágil crescimento económico e pela usura das potências que dominam os mercados.
Mas, como em tudo e toda a parte, não somos todos iguais na seriedade, na capacidade e nos princípios (embora muitos sejam “perfeitos” na demagogia, na manipulação e na mentira), e algo de útil pode ser feito, porque as forças políticas também se diferenciam.
Razões para votar
E por isso, há várias razões para votar. Quem lutou pela livre expressão do pensamento e direito de voto no tempo da ditadura, não pode hoje desistir, menorizando a importância da Europa, desvalorizando um acto cujo significado é muito mais amplo e uma forma de respeito por quem deu a vida pela liberdade e democracia.
Quem não conheceu esses tempos de opressão e censura, deve assumir a sua posição de consciência e intervenção, não deixando para os outros aquilo que a cada um compete, em acto cívico, em projectos de mudança pessoais e colectivos, em não ignorar a formulação de direitos e deveres na UE, e na resistência ao comodismo legitimando quem serve o regime, qualquer que seja, e não quem se serve dele.
Não votar é desperdiçar o 25 de Abril, é descrer na democracia (que não é perfeita, mas não tem alternativa), é pactuar com os velhos do Restelo que já não têm visão para o futuro, para as novas gerações e para as novas oportunidades para a igualdade, quando se chora a saída de jovens qualificados de Portugal para encontrar esse futuro lá longe e distância.
Opiniões respeitáveis
Cada cidadão pode posicionar-se no campo político em que se situa, não demonstrar o que não quer que seja em atitude pública, ou simplesmente organizar-se de acordo com o seu livre pensamento. Os partidos e as forças políticas existem por uniformidade ideológica, conceitos e práxis, sendo todas as opiniões respeitáveis. E assim, cada cidadão pode votar numa força política com a qual simpatize ou entenda melhor, e renegar os múltiplos exemplos conhecidos de oportunismo e incompetência e de promessas de encantar.
Mas como socialista e pelas razões expostas, eu não poderia ter outra opção, não poderia ser abstencionista nem estar indeciso.
É preciso a mescla da experiência e sabedoria do desempenho, com a inovação e competência, que podem (integrados no grupo socialista europeu), defender Portugal, negociar as políticas comuns e aproveitar os fundos estruturais de coesão que continuem a desenvolver o nosso País sem subterfúgios e aproveitamentos ilícitos ou desvio de objectivos do bem-estar colectivo.
Tendo Portugal por compromisso, é preciso promover a criação de consensos envolvendo todas as forças políticas, à volta dos grandes desafios inadiáveis para as novas gerações (alterações climáticas, igualdade de oportunidades, obras estruturais de regime, promoção da investigação académica e profissional, prioridade à saúde, educação e direitos humanos, combate às assimetrias chocantes).
Está indeciso? Decida-se pelo seu dever cívico e não pela descrença, por quem fez e não por quem promete, por quem acredita e não por quem vende. Vote por si, pela sua família, pela sociedade menos desigual.
(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra