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HIESE: inovação em espaço rural a partir de Penela

14 de Abril 2024 Jornal Campeão: HIESE: inovação em espaço rural a partir de Penela

O HIESE – Habitat de Inovação Empresarial nos Sectores Estratégicos é um espaço de inovação, em funcionamento desde 2016, cuja gestão resulta de uma parceria entre a IPN Incubadora e o Município de Penela.

“A relação entre estas duas instituições começou uns anos antes, com a colaboração em diversos projectos para promoção da inovação e do empreendedorismo em espaço rural”, começa por explicar Joaquim Macedo de Sousa, director executivo do Smart Rural HIESE, ao Campeão das Províncias.

No âmbito do trabalho desenvolvido, destaca-se o projecto ‘Smart Rural Living Lab’, que decorreu entre 2011 e 2014, para a valorização e capacitação económica do concelho de Penela, assente num modelo de inovação aberta, mobilizando sectores tradicionais e de baixa rentabilidade através de parcerias com start-ups de base tecnológica e entidades do sistema científico e tecnológico.

Mas foi em 2017 que, com a execução do Smart Rural Smart HIESE (2016-2018), que a relação se estreitou. “O HIESE tinha acabado de ser construído, concretizando este projecto mobilizador previsto no Programa Director de Inovação, Competitividade e Empreendedorismo (PDICE) para o município de Penela (2006). O PDICE tinha também identificado o Instituto Pedro Nunes como o parceiro para a gestão do espaço e gizava uma estratégia de especialização inteligente única a nível internacional, a estratégia ‘Smart Rural’, assente em seis sectores estratégicos intimamente ligados com o território e com os seus recursos endógenos: a agroindústria; a floresta; as energias limpas; o ambiente, economia circular e bioeconomia; o turismo; e as TICE”, explica o responsável.

Modelo de incubação do IPN

No Smart Rural Smart HIESE foram desenhados os modelos de gestão do HIESE e da parceria entre a IPN Incubadora e o Município de Penela. Foi implementado um programa de promoção de inovação em meio rural e de atracção de empreendedores qualificados que tinham no HIESE o espaço ideal para lançar as bases das suas ideias de negócio.

Acima de tudo, iniciou-se a constituição da equipa de gestão do HIESE, que trouxe para Penela o modelo de incubação do IPN. Este modelo envolve um método de selecção criteriosa de projectos empreendedores e de acompanhamento ao desenvolvimento do modelo de negócio e o plano estratégico de entrada no mercado, incluindo o crescimento da empresa e a angariação de investimento. Ainda que, naquela altura, o IPN tivesse já cooperado com diversos municípios e incubadoras, formando técnicos e equipas locais, surge pela primeira vez uma incubadora ‘Powered by IPN’, com uma equipa IPN deslocalizada, para gerir uma incubadora fora de Coimbra.

“Foi a oportunidade de estender o modelo de incubação do IPN aos sectores rurais, modelo esse reconhecido em vários benchmarks internacionais e que tem colocado a IPN incubadora, de forma consecutiva, como uma das melhores incubadoras de base académica do mundo”, realça Joaquim Sousa.

Sector aeroespacial e automóvel com programa de aceleração

Entretanto o HIESE vai participar num programa de aceleração para empresas no sector aeroespacial e automóvel em Penela: o SCAIRA. Trata-se de um consórcio de 13 parceiros de França, Portugal e Espanha, para desenvolver um projecto de três anos, financiado pelo programa ‘Interreg SUDOE’, que tem como objectivo apoiar empresas com soluções para os sectores aeroespacial e automóvel, alinhadas com o quadro da transição ecológica.

O SCAIRA teve início em Janeiro de 2024 e irá desenvolver um programa estruturante para a criação e aceleração de empresas em meio rural, de forma a criar valor nestes territórios através da inovação e do empreendedorismo.

O programa tem como parceiros empresas industriais relevantes à escala global, como a Airbus ou a Renault, que irão lançar desafios reais das suas unidades produtivas. Vão haver eventos colaborativos que se destinam a estudantes universitários e empreendedores que, durante um fim-de-semana e em equipas, irão desenhar respostas aos desafios. “Trata-se de uma excelente oportunidade para validar o mercado e estabelecer contactos com potenciais clientes – a Airbus e a Renault”, revela o responsável.

Serão três ‘Hackathons’, designados de HACK4SCAIRA, sendo que, o primeiro, irá decorrer a 27 e 28 de Setembro. Segue-se um programa de acompanhamento de start-ups rurais, também em três edições, em que os empreendedores serão capacitados em temas transversais de gestão, propriedade intelectual, transição ecológica, etc., sempre em estreita colaboração com a indústria aeroespacial e automóvel.

O Smart Rural Living Lab itegra também a Rede Europeia de Laboratórios Vivos (ENoLL European Network of Living Labs), que inclui iniciativas internacionais onde a investigação e a inovação são alinhadas com as necessidades de comunidades reais.

“Foi a primeira vez que a ENoLL acolheu um laboratório aberto de vocação exclusivamente rural”, diz o director executivo do Smart Rural HIESE, lembrando que “criaram-se as condições em termos de infra-estrutura, metodologia de incubação e equipa para acompanhar empreendedores – penelenses e oriundos de outras partes do país e do mundo – no desenvolvimento dos seus negócios”. Actualmente conta com mais de 40 start-ups em incubação e, ao longo dos últimos sete anos, o HIESE apoiou 75 empresas resultando na criação de 33 novas start-ups.

A experiência do HIESE foi estendida às outras incubadoras do município de Penela e, desde 2020, a IPN Incubadora é responsável pela gestão do smARTES Casa das Indústrias Criativas e do seu Fablab, um laboratório de fabricação digital que foi o elemento catalisador para um projecto financiado pelo Portugal Inovação Social e que teve o município de Penela como investidor social.

“Este projecto designava-se NEETMAKER, decorreu entre 2020 e 2022 e pretendia promover a empregabilidade e inclusão social de jovens NEET – jovens que não estudam nem trabalham. Através de um programa de capitação em empreendedorismo e competências de fabricação digital criamos as condições para que 29 jovens tomassem ‘as rédeas’ da sua carreira e se conseguissem inserir no mercado de trabalho”, conta Joaquim Sousa.

Quando nasceu em 2026, o HIESE avançou com um investimento de 1,4 milhões de euros, financiado pelo programa ‘Mais Centro’. Entretanto, até hoje o valor total ascende a cerca de 2,7 milhões de euros (através do PRODER, Centro2020, Interreg SUDOE, PROVERE e POISE, bem como de apoio da autarquia de Penela).

Penela e o dinamismo empresarial

A nível da importância local, o líder do projecto refere que “num município de baixa densidade, com cerca de 5.400 habitantes, a existência de uma incubadora reconhecida mundialmente pelos seus pares, que tem vindo a atrair novos empreendedores com projectos altamente inovadores (só em 2023, 16 novos empreendedores candidataram-se ao programa de incubação do HIESE), com uma estratégia de especialização focada nos recursos endógenos, cujas empresas têm pago quatro a cinco vezes mais em impostos do que o valor recebido em subsídios, foram certamente determinantes para que Penela estivesse par-a-par com Barcelona, em Espanha, e a Pomerânia Ocidental, na Polónia, como uma das regiões mais empreendedoras da Europa”.

“Importa destacar que Penela é já um concelho extremamente dinâmico em termos empresariais, especialmente quando analisado num contexto de território de baixa densidade. Prova disso é o número muito significativo de distinções PME Líder e PME Excelência que todos os anos reconhecem o desempenho superior das empresas de Penela”, reforça. Além disso, a aposta nas pessoas, vinca, também é importante. Com o Smart Rural Smart HIESE, “assumimos o compromisso para com o Município de contribuir para a afirmação de Penela como um território de baixa densidade inovador, criativo e empreendedor. Penso que o estamos a concretizar, atraindo novos empreendedores e proporcionando condições para que os empreendedores naturais de Penela se mantenham ou regressem ao seu concelho. Foi certamente também isso que o Comité das Regiões viu quando distinguiu Penela como uma das Regiões Empreendedoras da Europa em 2023”. Os últimos dados disponíveis, até 2022, consolidam uma tendência de crescimento em cinco anos, que culminou com a criação de mais de 100 postos de trabalho (directos) e um volume de negócios agregado que ronda os 7 milhões de euros.

Por fim, o responsável salienta que “Portugal é um país pequeno, mas profundamente assimétrico, especialmente nas dimensões litoral-interior”. “Se queremos desenvolver-nos de forma equitativa e integrada, temos de olhar para aqueles que são os nossos recursos naturais e endógenos e pensar como poderão alavancar uma estratégia de desenvolvimento. É isso que tem feito Penela, desde o lançamento do PDICE em 2006, com a implementação de uma estratégia de especialização inteligente ‘Smart Rural’ que tem o HIESE como seu protagonista”, conclui.

Ana Clara (Jornalista do “Campeão” em Lisboa)

Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 11 de Abril de 2024