Coimbra  11 de Outubro de 2024 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Joana Gil

Quem bem nada…

4 de Agosto 2023

É Verão e praias, piscinas, rios e albufeiras tornam-se locais particularmente apetecíveis. Infelizmente, a água esconde perigos, sendo o maior deles o de afogamento. A Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores dá-nos conta, através do seu Observatório do Afogamento, que em 2023 morreram 157 pessoas por afogamento no nosso país. Embora com algumas oscilações, os afogamentos fatais têm-se mantido consistentemente acima dos três dígitos nos últimos anos. Os dados da Associação para a Promoção da Segurança Infantil indicam, entre 2002 e 2021, 286 mortes por afogamento de crianças e jovens menores de idade. Embora os números registem uma melhoria nos últimos anos quando comparados com o início do século XXI (descendo de uma média de 27 mortes por ano para 17), a prevenção dos afogamentos infantis no nosso país continua a precisar de atenção. Na Bélgica, os valores a rondar os 50 afogamentos por ano são considerados motivo de alarme e têm levado a várias iniciativas no sentido de tornar as piscinas e os meios aquáticos mais seguros.

O curioso é que na Bélgica, que tem uma costa muito menor do que Portugal, um clima que convida menos a praias e piscinas e um número de afogamentos também muito inferior, a aprendizagem da natação é um assunto muito sério. Desde a pré-primária que a natação integra o currículo escolar. Espera-se que até ao 6.º ano de escolaridade as crianças aprendam a adoptar comportamentos de segurança em meio aquático, entre eles se contando saber nadar. Tudo isto sob o comando de profissionais especializados, embora com a presença do professor titular da turma. Isto pressupõe acesso a piscinas aptas e a profissionais qualificados, o que, infelizmente, nem sempre é possível. A exclusão de algumas crianças, ao longo do percurso escolar, do acesso a aulas de natação é encarada com preocupação e gravidade, uma vez que pressupõe que os pais tomem a seu cargo os encargos financeiros, de deslocação e tempo para garantir a aprendizagem, ou, pior, que essas crianças cresçam incapazes de se defender, nadando, do perigo de afogamento.

No nosso país, este pensamento está ausente. A natação aprende-se nas férias de Verão, no mar ou na praia fluvial, porventura na piscina, junto de familiares ou amigos. Saber nadar é visto como bom, mas não essencial. Aprende não quem quer, mas apenas quem pode. A sociedade demite-se da responsabilidade de garantir que todas as crianças aprendam a nadar, o que as tornaria adultos mais capazes de fruir de uma forma saudável de lazer no Verão, mas também mais aptos a defender-se de situações de perigo em meio aquático. Claro que evitar comportamentos de risco continua a ser essencial, mas se nadar não basta, pelo menos ajuda. Agora que Coimbra tem um nome crescido no seu seio como vice-campeão do mundo dos 50 m de mariposa, podemos aproveitar esse impulso dado por Diogo Ribeiro para lançar uma reflexão sobre o acesso, desde tenra idade, à aprendizagem da natação. Não precisamos de esperar por directrizes nacionais. Uma experiência piloto com algumas escolas primárias – porque não?