Pedro Faria, Ana Chung, Paula Morais
Um grupo de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) está a realizar um estudo pioneiro sobre um novo processo de recuperação de materiais ligados à indústria electrónica. Esta investigação faz parte da Agenda Microelectrónica do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), financiada com 30 milhões de euros.
Actualmente, o lixo electrónico é um dos resíduos sólidos que tem uma taxa de acumulação elevada, atingindo quase 10 milhões de toneladas por ano na União Europeia, sendo que apenas cerca de 15 a 20% desses resíduos são reciclados. Em 2021, estima-se que tenham sido produzidas 55,2 milhões de toneladas de Resíduos de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos (EEEW) em todo o mundo.
Com o objectivo de enfrentar esse problema, a equipa de investigadores da FCTUC está a desenvolver uma pesquisa relacionada com a tarefa “E-Waste Recycling to Foster a Circular and Sustainable Economy”, que pretende contribuir para a criação e definição de processos industriais relacionados com a economia circular e a reciclagem de produtos do sector da Microelectrónica. O principal foco deste projecto é a recuperação e tratamento de dispositivos electrónicos, de modo a que as matérias-primas possam ser reintegradas na cadeia de valor.
“O objectivo é encontrar um processo combinado, químico e biológico, para a recuperação de metais críticos e de alto valor a partir de resíduos eléctricos e electrónicos de computador”, explica Paula Morais, docente da FCTUC e investigadora no Laboratório de Microbiologia do Centro de Engenharia Mecânica, Materiais e Processos (CEMMPRE).
O estudo será baseado numa análise inicial para identificar e mapear o ecossistema português do sector da Microelectrónica, sendo que, posteriormente, a investigação da FCTUC irá concentrar-se nos processos microbiológicos e químicos de reciclagem de metais preciosos. Serão desenvolvidos processos de bio-lixiviação a partir de resíduos gerados por parceiros industriais no projecto, bem como de bioacumulação selectiva de metais após o tratamento químico dos resíduos. O sistema de recuperação de metais por ser misto (químico-biológico) é extremamente inovador, assegura o grupo de Microbiologia. Os materiais valiosos a serem recuperados incluem ouro, platina, prata, índio e gálio, provenientes de computadores e equipamentos de telecomunicações em fim de vida.
Este projecto teve início em Janeiro de 2023 e, neste momento, o consórcio, composto por 17 entidades, está a trabalhar na clarificação dos fluxos de resíduos e na caracterização dos materiais que serão utilizados para criar este novo processo, além de definir a estratégia integrada entre os parceiros da FCTUC para a recuperação de metais.
Além do CEMMPRE, também estão envolvidos neste projecto José António Paixão, do Centro de Física da Universidade de Coimbra (CFisUC), e Licínio Ferreira, do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF).