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Semanário no Papel - Diário Online

 

Luís Marinho

Lutar para sobreviver

4 de Março 2022

 

 

É disso que se trata. E por isso a consciência humanitária universal se ergue num grito de repúdio contra Putin. Porque recusa ser testemunha do horror que a violência brutal da guerra que nos impõe contra o povo ucraniano, na primeira linha, é só um sinal da dor que nos espera.

O que a imagem e o som dos media nos metem em casa, não é espectáculo encenado, não é história de dramas passados, nem crónica de heroicidades de pessoas ou povos com que se alimentou, desde 1945, o nosso imaginário da guerra. Para nós, europeus, as guerras ou são história ou são dos outros ou são longínquas. Hoje, essa tranquila e subliminar consciência acabou. A guerra está aqui e é connosco! Não é fantasia de Carnaval.

O nosso modelo de convivência pacífica, garantido por anos de dissuasão pelo terror, durante a guerra fria, ou pelo sagrado compromisso entre os europeus, depois de duas guerras mundiais num século, de garantir a Paz na Europa, no quadro da União Europeia, permitiu-nos décadas e décadas de bem-estar. Infelizmente a incultura histórica o desprezo pelos direitos humanos a corrupção da democracia representativa o extremismo político de direita e de esquerda e o fanatismo religioso corromperam o valor da paz.

Agora, só há uma saída para a Europa, perante um conflito que só indicia a nossa ingénua fragilidade, disfarçada pela proteção americana. Dotarmos a nossa Comunidade Europeia dos meios diplomáticos e militares indispensáveis a termos, nós europeus, não só força moral e política para prevenir conflitos, mas também falar alto, na defesa da Segurança e da Paz. Para que não pensem que só disparamos com bisnagas de Carnaval…

(*) Professor de Estudos Europeus e de Ciência Política no Instituto Superior Miguel Torga e antigo vice-Presidente do Parlamento Europeu