Coimbra e região vem-se agitando em torno da defesa da autonomia do Hospital dos Covões. A sociedade civil onde se destacam antigos e actuais profissionais daquela unidade hospitalar, mas também antigos doentes, tem promovido a reflexão em torno de uma causa dinamizando tomadas de posição, acções de mobilização e depoimentos legitimadores do não encerramento.
À excepção do movimento de repulsa pela coincineração em Souselas, não encontramos nos últimos 20 uma situação análoga. A causa, que para alguns atinge foros de dimensão nacional, já merecia da parte do governo uma tomada de posição bem clara. Mais não seja por que a Ministra da Saúde foi, em tempos não muito distantes, administradora daquela unidade hospitalar.
Feita a minha declaração de intenções – clara defesa da autonomia e repúdio pelo esvaziamento – façamos um pouco de História. O Hospital dos Covões nasceu da iniciativa do reputado médico e cirurgião Bissaya-Barreto, que muito porfiou pela existência do Sanatório da Quinta dos Vales/Covões, inaugurado a 06 de Julho de 1935, como dispositivo fundamental da Obra Anti-Tuberculosa de Coimbra dinamizada pela Junta Geral do Distrito (Junta de Província da Beira Litoral a partir de 1937).
As festas da inauguração oficial do estabelecimento decorreram durante um fim de semana, tendo sido presididas pelo Ministro do Interior, Tenente Coronel Linhares de Lima, contando com a presença do representante da Colónia Portuguesa do Brasil, Comendador Sousa Cruz, instituição que cedera o espaço e edifícios antigos para adaptação a sanatório.
A inauguração solene realizou-se no sábado, seguido à noite de um grandioso Baile do Romantismo. No domingo da parte da tarde realizou-se um Cortejo Medieval que percorreu grande parte da cidade e que contou com a adesão entusiástica da população, tendo as cerimónias encerrado com a realização do Torneio Medieval.
Recordemos parte do discurso proferido por Bissaya-Barreto aquando da sessão solene:
«Hoje é dia de festa; inauguramos uma casa que há-de receber muitos pobres e doentes, uma casa onde queremos que haja alegria, onde se cuide do seu espírito; é dia de festa porque adquirimos mais uma arma poderosíssima de luta contra o adversário perigoso que é a Tuberculose: não é, portanto, momento azado de relembrar a luta que foi necessário travar para esclarecer o espírito de quem não queria ver a grandeza da obra que se projectava, a importância social que representa para o país, de tão minguados serviços Anti-tuberculosos, a abertura dum Sanatório como o da Quinta dos Vales».
O Sanatório com capacidade e ocupação para 300 doentes masculinos foi dirigido pelas irmãs de S. Vicente de Paulo, que tinham uma tradição ligada à assistência remontando a meados do Séc. XIX.
Ao fim de 35 anos de funcionamento ininterrupto o sanatório – que deixara uma marca indelével na História da Assistência à Tuberculose em Portugal – foi adaptado a nova função, transformando-se no Hospital Geral da Colónia Portuguesa do Brasil que com esta designação abriu as suas portas a 27 de Abril de 1973.
(*) Historiador e investigador