Coimbra  29 de Maio de 2023 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Hernâni Caniço

O marketing político

5 de Agosto 2022

O povo é quem mais ordena no momento do voto, conferindo legitimidade a quem vence, para decidir sobre o que lhe diz respeito e a todos os cidadãos, num mandato em que é julgado pelo que fez, pelo que não fez, pelo que parece que fez, e pelo valor do que fez.

Em Coimbra, as razões para a vitória de juntos somos contra que passou a juntos somos os maiores, já estão dissecadas, fazem parte da história, quer agrade quer não agrade aos protagonistas e às forças políticas. Quase um ano decorrido, é hora de apreciar / depreciar a mudança, de rever erros cometidos e mais-valias não reconhecidas, de apresentar novas propostas sem bafio e com cheiro a verdade, de mostrar que mudança não corresponde a melhoria.

Encontramo-nos na ‘silly season’, mas a corrente de propaganda de acções menores, de idolatria quase endeusamento, de transformar uma ribeira num oceano, continua a agitar a cidade, e de forma organizada, com núcleo duro sempre os mesmos, como se Coimbra tivesse passado de lugar em vias de extinção para uma réplica da cidade imaginária de Shangri La, onde todos são felizes, graças a um dom divino.

As redes sociais desempenharam um forte contributo eleitoral, com uma rede que permanentemente vilipendiava ideias, pessoas, governação, legislação, atribuindo aos socialistas todos os males do mundo (inclusive por quem tinha sido dito socialista), invadindo as páginas de outros sem pudor e sem vergonha, comentando tudo o que mexia sem produzir qualquer feito, insinuando malévolas intenções e pecados originais (dos outros, claro).

Esperava-se que, concluída a campanha, o milagroso programa para Shangri La começasse a ser aplicado, as 112 medidas fossem quantificadas com taxas de execução (que se exigem para aqueles que agora não têm responsabilidade de execução), a corte dos seguidores explanasse apenas bajulação (como faz) e não continuassem a destilar fel e vinagre, produzissem pelo menos artigos de opinião e não se limitassem a comentários sobre comentários e novos comentários.

Os novos seguidores continuam a sua campanha, não conseguindo mostrar obra (que não têm…), contestando obra que é de outros, mas apresentando-a como ‘selfie’ (há sempre um pormenor que não estava bem…), enxovalhando a oposição que faz oposição ao marasmo ‘dolce far niente’, à mentira de perna curta e à vã glória de se vangloriar.

O marketing político passa hoje pelos novos seguidores. No tempo da ditadura, na ausência de liberdade, enquanto os democratas lutavam denodadamente, a situação vigente tinha como trunfo os informadores do regime, que denunciavam quem se opunha à ditadura, levando a tortura e prisões políticas.

Novos tempos, novos protagonistas, novas metodologias. Quem tem convicções, expõe as suas ideias, a que tem direito. E não tem preço, não muda de camisa ao sabor das conveniências, não precisa de prebendas, não assedia, não tem medo. O povo dirá de sua justiça, em tempo oportuno.

(*) Médico e vereador do PS na CMC