A palavra tricana representou, inicialmente, um tipo de tecido, um mantéu que nas mulheres das classes abastadas era substituído por peça idêntica, mas mais sofisticada, a mantilha. Com o andar do tempo a palavra passou a designar a própria mulher que usava o tecido.
A tricana fez parte, durante anos, do imaginário dos estudantes da Universidade. Sempre que havia zaragatas entre estudantes (ou doutores) e os habitantes da cidade (os fruticas), não raras vezes tomavam partido pelos primeiros.
Aos poucos as tricanas foram desaparecendo, levadas pelo ritmo que a modernidade e progresso impuseram. Uma das mais conhecidas foi a senhora Silvina «Gata» de alcunha, que dizia ser da freguesia de Santa Cruz. Entrevistada por Nelson Correia Borges, em 1987, fez naquela altura uma breve descrição da sua vida, começada a lavar roupa no rio com 20 anos, passando por acartar areia do rio para a estação.
Antiga cantadeira no rancho, reivindicou como sua a quadra duma conhecida cantiga numa fogueira de S. João. Tendo o presidente da Câmara mandado cortar as imponentes palmeiras do largo de Sansão (actual praça de 08 de Maio) logo fez uma quadra de escárnio:
«Ó Senhor Pedro Bandeira,
Ó seu grande figurão,
Que mal é que lhe fariam
As palmeiras de Sansão?»
(*) Historiador e investigador