O vereador José Manuel Silva, do Movimento “Somos Coimbra”, deu música na sessão camarária.
Quis protestar – disse ele – pelo facto de, e quando pretendia consultar um processo, ter sido encaminhado para o Serviço de Atendimento da Câmara.
O presidente rotulou a façanha de “palhaçada” e prometeu participar ao Ministério Público. José Manuel Silva retorquiu: “até lhe agradeço”.
Esta forma indigna de fazer política não nos diverte, caros autarcas. Penso interpretar a opinião de milhares de munícipes que votaram num e noutro eleito municipal.
Este verdadeiro entretenimento municipal é um desrespeito não só pela dignidade que deve presidir a um órgão autárquico, o qual tem de estar acima destas tricas e destas cenas pitorescas e caricaturiais que caracterizam um regime imberbe, mas também a todos os cidadãos de Coimbra que aguardam que se aproveite o tempo da reunião camarária para se abordarem temas, problemas, projectos e outros assuntos que possam transformar a cidade e as suas vidas.
O Dr. José M. Silva pode ser criativo no modo de apresentar, no seu tempo de intervenção municipal, o que lhe poderá ter causado constrangimento na sua acção de vereador e de se ter sentido postergado pela maneira como, e dentro da casa que serve, foi tratado. Isso é-lhe inegável… perde é tempo do tempo que deve usar para tratar de Coimbra e dos conimbricenses.
Já o que não deveria exercer, e como o fez nessa sessão, era o cargo de autarca com perda de tempo, dando música a todo o elenco, visando – fica essa ideia – a figura do presidente, num desperdício de oportunidades para expor tantos problemas e tantos anseios de munícipes abandonados à sua sorte e de uma cidade que se tem atrasado no tempo e na sua presença.
Mas o chefe do executivo não conseguiu encaixar a crítica do vereador do “Somos Coimbra”, tornando-a numa cena ridícula e marcante da dita reunião. Como se Coimbra e os conimbricenses precisassem deste tipo de entretenimento para retirarem partido da mesma…
Manuel Machado não se conteve. Irritou-se e até se levantou para se deslocar até à cadeira de um vereador, J. M. Silva, para lhe desligar o microfone, a fim de cortar a audição da canção que este decidiu difundir, criticando a falta de democraticidade, na versão dele, que impera na edilidade conimbricense.
E perdem os autarcas tempo com estas distracções e com estes imprudentes posicionamentos que não contribuem para a elevação da vida camarária nem tão pouco para a resolução de problemas instantes que continuam a preocupar as gentes de Coimbra e a despromover Coimbra.
O exercício do poder local, regional e nacional é mais do que este tipo circunstancial de arremedos de fantasias democráticas e de saber representar os eleitores.
Estou certo que, e a maioria dos que elegeram um e outro, não o fizeram com a intenção de virem a presenciar esta forma de terem teatro político e institucional tão grosseira e com tanta falta de respeito.
A democracia deveria estar, a bem dela e de toda a sua credibilidade, afastada destas peculiares cenas que não abonam aos seus actores.
A democracia precisa de gente adulta e, também, de formas de crítica que possam ser pedagógicas, elevadas e com cidadania.
Dar música numa sessão, desperdiçando tempo, acaba por ser um péssimo exemplo da missão e da função a que se decide votar qualquer eleito… Mas exacerbar a retórica da resposta, com ameaças judiciais e desligamento da instalação sonora, é pessegada para jardim de infância, nunca para uma reunião municipal.
E assim vai Coimbra dos (des)amores…