Coimbra  21 de Setembro de 2023 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Joana Gil

Dia Sem Carros

15 de Setembro 2023

Estamos em plena semana europeia da mobilidade, que tem lugar todos os anos entre 16 e 22 de Setembro. São sete dias dedicados à mobilidade sustentável. O mais icónico desses dias, pela visibilidade que tem, é o chamado “Dia Sem Carros”, ao qual muitas cidades aderem (normalmente ao domingo, por razões facilmente compreensíveis), que põe em destaque a utilização de transportes públicos e de meios alternativos ao veículo automóvel, como a bicicleta.

Em Coimbra certamente não faltará o que fazer neste fim-de-semana que se avizinha (a cidade tem sempre uma boa programação cultural), mas infelizmente não consegui encontrar no sítio da internet da Câmara Municipal informação dedicada ao Dia Sem Carros, no qual a cidade participa, como indicado no sítio mobilityweek.eu. A adesão, mesmo tendo lugar, será por isso, suponho, discreta.

Já em Bruxelas, o Dia Sem Carros é um dia de festa. A cidade não se poupa a esforços para fazer desse dia um dia diferente, para melhor, para todos os bruxelenses. Assim, no próximo domingo, 17 de Setembro, todo o território da cidade de Bruxelas (o que compreende 19 communes, algo que se aproxima das nossas “freguesias”) estará fechado ao trânsito automóvel entre as 9h30 e as 19h00. Autocarros, eléctricos, metro, serão gratuitos – e reforçados especificamente para esse dia! As estradas da cidade serão, como todos os anos por esta altura, tomadas por transportes públicos e bicicletas de pessoas de todas as idades. O tom festivo convida a sair à rua e a programação da cidade corresponde a este ambiente. Há música, dança, espectáculos de rua e não faltam motivos para sair de casa.

O esforço de Bruxelas para se libertar da pressão automobilística não é um fogacho de ocasião a propósito da semana da mobilidade. A área exclusivamente pedonal tem aumentado de forma significativa nos últimos anos. O centro de Bruxelas tem desde 2015 a maior zona pedonal urbana da Europa, que abrange mais de 50 hectares: o chamado “piétonnier” é o resultado de um grande projecto que converteu avenidas outrora sufocadas pelo tráfego em zonas arborizadas, de passeio e de fruição dos cidadãos. No centro, todos os dias são sem carros. A mudança não foi indolor (que o digam os comerciantes fustigados pelas obras de reconversão…), mas os benefícios são indesmentíveis e mesmo os mais cépticos renderam-se às vantagens de ter menos carros e mais peões. Esta visão que a cidade de Bruxelas tem para si própria continua a ser afirmada através de restrições à velocidade de circulação, dos condicionamentos dos sentidos de circulação ou do limitadíssimo número de lugares para estacionar – um verdadeiro garrote em torno do automóvel, que, combinado com uma rede de transportes densa e que funciona bem, tem convencido os bruxelenses a usarem cada vez menos o carro. Ganha o ambiente? Claro, mas desde logo ganham os cidadãos, porque uma cidade feita para carros é uma cidade de entraves à circulação de carrinhos de bebé, bicicletas, cadeiras de rodas, carrinhos de compras, idosos e crianças. Os portugueses, sem saberem, vivem reféns do automóvel, mesmo quando andam a pé. Possamos então usar o Dia Sem Carros para provar uma cidade diferente. Quem sabe gostamos e queremos mais!