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Américo Baptista dos Santos

Dia do Antigo Estudante de Coimbra: Ponto de vista para proposta de unidade (XXXI)

25 de Fevereiro 2022

A introdução da temática futebolística, nas propostas para a celebração do Dia do Antigo Estudante de Coimbra, teve, pelo menos, o mérito de trazer à liça brigantes, que não sairiam do seu conforto. Ter ideias e expressá-las causa, quase sempre, um certo desassossego, o que numa sociedade acomodada não deixa de ser positivo. Desde logo, porque sendo a opinião a adequação do espírito a um juízo, essa adequação implica, por si, a não exclusão ao receio de errar. Quando fundamentada (a opinião) ultrapassa a mera presunção, por vezes, um modo subjetivo de apreciação do valor de um facto, um objeto, uma pessoa, uma iniciativa ou… uma comemoração de quaisquer dessas “coisas”.

A riqueza de uma solução, não raro, está mais no caminho que na meta.

Na esperança, ainda não perdida, diria mais, sempre renovada, de que de um saudável diálogo se chegue a um entendimento, como resultante da capacidade de pensar, interagir, estimular, incentivando a coragem de contribuir positivamente numa solução. Não tem de ser a minha, a tua ou a dele mas que de todas elas resulte uma nossa. Onde as cedências de uns não sejam tidas como derrotas ou vitórias de outros mas, tão só e apenas, concessões para um acordo final, sem pedras rejeitadas e com todas angulares, em que todos somos construtores.

Já que estamos a cometer o pecado de “futebolar” vamos a 1946. Então perguntaram ao Bentes (o nosso rato atómico – ver revista Stadium de 28 de Janeiro de 1948) porque tinha recusado ir jogar para um grande. A sua resposta foi elucidativa “ … Por muito bem que me desse em Lisboa, não esqueceria a rainha do Mondego. Coimbra… Coimbra é Coimbra! Nós os estudantes temos qualquer coisa que nos prende…” (Académica – História do Futebol – já citada – pág. 119).

Esta transcrição não deixa de ser um bocado de todos nós e, particularmente, um bocadito de mim. O Bentes foi meu professor na escola primária; meu treinador nos juniores da Académica; recitei vezes sem conta a Balada do Bentes, do Manuel Alegre; e vivo na rua que tem o seu nome. Por tudo isso o meu querido amigo Tó Bentes, seu filho, vai perdoar-me a ousadia.

Talvez a prosa de hoje absolutamente imprudente, pelo despropósito, ajude a perceber o conteúdo de algumas crónicas anteriores e o significado de algumas palavras que as compõem. Para esse pecado a justeza da absolvição, ainda que o perdão resulte mais da penitência do que do arrependimento.

Uma consolação. Na apresentação do livro “Cantares – Para Gostar de Envelhecer” da autoria de Polybio Serra e Silva, no Pavilhão Centro de Portugal, o Professor Linhares Furtado referiu-se atenciosamente a estes nossos apontamentos quase semanais. O que seria bom para qualquer cidadão, para mim teve um significado muito especial. O meu primo, Licínio do Katekero foi o primeiro transplantado renal. Durante uma dúzia de anos celebrámos esse evento em grande proximidade com toda a equipa. Um já partiu. Também antes do tempo.

Resta-nos a esperança de refazer a equipa, Nessa outra mais elevada de que não há fim.

(*) Ex Presidente da AAEC