Conheci o Doutor António Arnaut no final da década de oitenta, enquanto estudante, dado que fui e sou colega do seu filho, o meu amigo Manuel Arnaut. Nessa altura, em diversas situações, em que me desloquei a sua casa, em Santa Clara, tive a oportunidade de percecionar um homem culto, inteligente, muito afável e de trato muito simples. Um Homem Bom. A última vez que estivemos juntos foi em Maiorca, no concelho da Figueira da Foz, no dia 25 de Abril de 2015, em que foi orador convidado da cerimónia de comemoração do dia da Liberdade.
Não será novidade para o comum dos mortais que o “pai do SNS” não se reveria no estado atual do mesmo. Nem ele, nem ninguém de bom senso, que tenha responsabilidade de gerir um qualquer serviço público.
Uma coisa é nós respeitarmos um dos direitos mais importantes que temos enquanto sociedade, uma excelente decisão de um conjunto vasto de portugueses, que em boa hora decidiram fundar o SNS, onde claramente emerge o Doutor António Arnaut outra coisa bem diferente, é assistir ao estado actual da situação caótica em que o SNS está metido e não ter um pingo de indignação com o que se passa. E não é com os seus profissionais, sejam de que categoria for, pois são do melhor que o país tem. O problema é claramente de quem gere os destinos deste sector e que devia ser responsabilizado por toda a situação que se vive actualmente!
Foi com enorme admiração que li as declarações do Senhor Primeiro-Ministro, Dr. António Costa, que está em marcha uma revolução no SNS e que uma das bandeiras deste “novo SNS” seria “o reforço do SNS 24…”. Foi verdadeiramente a assunção de responsabilidades que tardava e que reflecte aquilo que muitos diziam em público e que era difícil de ouvir e de assumir. Nos últimos tempos, tenho ouvido por várias vezes o actual Presidente da CM de Coimbra, Professor Doutor José Manuel Silva, ex-Bastonário da Ordem dos Médicos, Médico, Professor na Universidade de Coimbra e profundo conhecedor do SNS, que “o problema do SNS era a falta de investimento e de organização”. Estava certo! Pelo que se tem passado ultimamente, nomeadamente a partir deste fim-de-semana e depois das declarações de todos os envolvidos, é mesmo isso que se passa, o SNS está doente, necessita de intervenção urgente, que na sua essência se resume a mais e melhor dinheiro e organização consciente dos serviços globais, nomeadamente os Serviços Públicos de Saúde que deverão ser articulados com os serviços privados na medida do estritamente necessário.
De Viseu para Coimbra
Não deixa de ser irónico, que depois de na minha última crónica ter abordado o inacreditável problema que representa o IP3 que faz a ligação rodoviária entre Coimbra e Viseu, que a solução para os doentes, que este fim-de-semana tivessem um acidente cardíaco, AVC, Enfarte do Miocárdio ou outro, tinham de efectuar a assistência médica de cirurgia em Coimbra, através do transporte por ambulância “naquele IP3”! QUE PERIGO! QUE VERGONHA!
Há pouco mais de 2 meses, o meu irmão que mora em Viseu, sofreu um enfarte do miocárdio e teve a sorte de ser assistido em tempo útil pelo INEM que o transportou ao Hospital de Viseu, onde, com a rapidez que se impõe nestes casos, foi intervencionado e foi salvo pelas magnificas equipas hospitalares. Se tivesse acontecido neste fim-de-semana e com o panorama actual, se fosse necessária a sua deslocalização para Coimbra, com o temporal que esteve, provavelmente, a sua história poderia ser outra. Não pode ser! Foi com ele mas pode ser com qualquer um de nós e o SNS é de todos, de todos os portugueses que todos os dias entregam ao Estado os seus impostos para este gerir.
Sabemos todos os dias que tudo está mais caro, que os estudos de viabilidade que o Governo encomenda, bem como outras necessidades que nos são impostas têm o seu valor inflaccionado. Então porque será que os salários e as condições dos profissionais de saúde não podem sofrer do mesmo incremento? Porque é que podemos injectar milhares de milhões de euros em diversas actividades que resultado duvidoso e não o podemos fazer na actividade que mais nos dá todos os dias? Costumamos dizer que quando temos saúde, podemos sempre aspirar a tudo e é bem verdade.
Nós, cá por Coimbra, afirmamos sempre e com convicção que temos a melhor saúde do país e uma das melhores do mundo. Pelos profissionais qualificados, pelas infraestruturas públicas e privadas e ainda pela melhor Escola de Medicina, a Universidade de Coimbra. O desenvolvimento económico e social de um território faz-se de muitas conquistas, onde a Saúde é uma das principais. Não é por acaso, que os clusters privilegiados na área de investimento em Coimbra são a Tecnologia e a Saúde, mas todos os outros têm o seu espaço e a nossa vontade férrea de os receber.
Coimbra faz sempre a diferença na arte de receber e a nossa saúde é dos bens mais preciosos. Esperamos e desejamos que quem tem responsabilidade de não deixar que o SNS se desgaste de forma irreversível o faça urgentemente, que nós faremos de tudo para incrementar o investimento e o desenvolvimento económico no nosso território e no país.
(*) Doutorando e investigador