Passados 50 anos da Revolução dos Cravos urge um momento de reflexão sobre a evolução da área social desde o 25 de Abril de 1974. Longe do país atrasado e isolado do resto do mundo que eramos na época do Estado Novo, em que as pessoas com deficiência eram escondidas com vergonha pelas suas famílias e não tinham sequer uma escola que as aceitasse, estamos hoje perante um país que nada tem a ver com esse tempo.
Acreditamos hoje que os lugares nos quais as pessoas com deficiência devem viver. aprender e trabalhar, são os mesmos que são frequentados pelo resto das pessoas. Há muito para fazer, com certeza, mas existem todas as razões para acreditarmos que estamos no bom caminho e a inclusão plena das pessoas com deficiência acabará por ser uma realidade.
O movimento parental de apoio à pessoa com deficiência que surgiu em meados do século XX com a implementação de muitas Associações de Pais (as conhecidas APPACDM´s) por oposição às atrocidades que se fizeram sentir durante a segunda guerra mundial, onde as pessoas com deficiência eram eliminadas e julgadas como seres aberrantes e imperfeitos, entrou em Portugal nos anos sessenta mas foi só após o 25 de Abril que foi consolidado e fortalecido.
O apoio às minorias desfavorecidas fazia-se no Estado Novo por razões maioritariamente religiosas e caritativas, as quais foram sendo substituidas pós-revolução por uma motivação mais humanista baseada na solidariedade, igualdade humana inerente e justiça social.
A protecção social das pessoas com deficiência e das outras minorias desfavorecidas é um dos direitos mais importantes adquiridos no 25 de Abril. Antes de 74, os mais vulneráveis não tinham qualquer direito social, político ou económico. Num sistema baseado em três pilares: Deus, Pátria e Família, o Estado mantinha a maioria da população longe dos vectores de decisão, sendo necessário para isso manter a maioria do povo analfabeto e desinformado. A educação para uma elite no Estado Novo foi sendo substituída progressivamente por uma educação para todos.
O acreditar na escola como espaço de inclusão e de desenvolvimento pessoal e profissional acessível a todos os cidadãos portugueses, independentemente das suas capacidades ou incapacidades, é das maiores conquistas de Abril.
(*) Presidente da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Coimbra