Foi num dia de Outono que nasci. Da janela larga daquela casa na Mata do Choupal, a minha Mãe via a dança das folhas em movimento. Disse-mo várias vezes quando abria o Seu livro de memórias. Embrulhado na capa do meu avô, passeei por entre carvalhos e eucaliptos. Do Vento, habituei-me a ouvir o sibilar da Sua voz. Ora brando, ora rugindo nas tardes escuras e noites agrestes. Sentado nos degraus de pedra do meu singelo berço, eu olhava a escuridão ouvindo a Dança Do Vento. Era um tango lúgubre e sofrido. Era a agonia de uma estrada sem fim. Na minha mente de criança, imaginava as brisas outonais viajando dos confins do Universo num perpétuo murmúrio. Não tenho a Imortalidade do Vento. Tenho princípio e fim. E o caminho pedregoso já se me afigura estreito. Um dia partirei. E levarei comigo uma esperança. O sonho de que uma suave brisa me transporte nas Suas asas pelos Labirintos do Tempo, na procura incessante do Eterno. E é neste espelho de alma que me revejo. Hoje, que descobri mais uma ruga no meu rosto. E me nasceu mais um fio de prata no cabelo.