Coimbra  3 de Maio de 2024 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Lino Vinhal

A comunicação social não é um negócio é um activo informativo e cultural

19 de Abril 2024

Aqui chegado, aos 24 anos de publicação em Coimbra, o Campeão não deita foguetes pelo trabalho feito, mas reconhece, ainda que em causa própria, que acrescentou algo à Informação na região e no país. Se não o bastante para se dar por plenamente satisfeito, o quantum necessário para nos motivar a manter a passada com o vigor que tivermos em cada ocasião. Fazer Comunicação social – e é só desta que aqui se fala e não daquela outra que anda por aí às costas de plataformas que não têm como salvaguardar o rigor e a credibilidade, nem isso lhes interessa – fazer comunicação social no mundo e muito em particular em Portugal, dizíamos, não é hoje tarefa fácil. Por várias razões e nem todas de matriz económica, se bem que esta seja também decisiva. A grande dificuldade, talvez a maior, não vem daí. Vem da circunstância a que ninguém, ou pouca gente, dá importância, a começar pelas escolas: a falta de leitura. Portugal está a perder hábitos de leitura e incentivá-la desapareceu dos cardápios a que os pais recorrem quando preparam os filhos para os amanhãs. Professores não ligam e não vão além de sugerirem a leitura de meia dúzia de autores aos seus alunos, realidade camuflada em três ou quatro obras obrigatórias que, até porque impostas, os alunos abandonam na primeira oportunidade. A leitura é como a comida que se dá aos filhos: incentiva-se sobretudo, estimula-se de seguida, recomenda-se na mesma dimensão e com o passar do tempo ela própria seleccionará os leitores que quer que consigo continuem.

Façamos uma viagem em Paris, em Londres, Bruxelas, recorrendo a transportes públicos de maior ou menor extensão, sobretudo no Metro de cada uma destas cidades. Uma vez sentados, uma boa parte dos passageiros tira da mala um livro e começa a ler. Todos nós presenciámos isto já dezenas de vezes. Em Portugal este hábito nunca existiu, salvo um leitor ou outro a consultar um Jornal. Hoje, uma vez sentado, o passageiro instala-se de imediato nas redes sociais onde encontra o que mais lhe agrada e quando chega às portas da Universidade dá erros ortográficos e gramaticais em barda, quando sai pouco ou nada melhorou. Cada vez menos alunos sabem expor por escrito com clareza um qualquer assunto. Porque quem não lê dificilmente algum dia saberá escrever.

É certo que os custos de produção, sejam livros ou jornais, superam hoje em muito as respectivas receitas. Por isso as tiragens descem cada vez e os milhares de exemplares que se editavam de belas obras reduzem-se hoje a escassas centenas. A isso, como se disse atrás, soma-se a perda do hábito de leitura. Acrescente-se-lhe o incómodo que a imprensa provoca, seja aos poderes económicos, sociais, políticos ou outros. O que for escrito resiste ao tempo, perdura para além de gerações, em contraste com as mensagens meramente digitais que são utilíssimas no dia-a-dia mas não cuidam nem salvaguardam o aprofundamento das questões, a sua análise e nem sequer muitas das vezes lhes dão tempo para reflexão.

Este quadro, que aqui se retrata com ânimo diminuído, será um ponto de passagem ou um fim de linha. O futuro, e só ele, o dirá. Mas a história já deu infinitas provas de bem conhecer os caminhos do futuro. Sem nada rejeitar, aceita o que de novo vai surgindo, deixando ao tempo o que ao tempo pertence: que seja ele a balizar os caminhos do progresso, do desenvolvimento, da felicidade da humanidade. Que saiba, pois, o homem distinguir o que a si pertence como tarefa, que o tempo fará o resto e raras vezes ou nunca se engana.

Será nessa passada e nessa convicção que o “Campeão” calcorreará as pedras da calçada do futuro. Com uma certeza, que aqui reafirmamos à região e aos leitores: não mediremos a palmo nem o rigor nem a verdade, nem a ética, que abraçaremos no seu todo sempre que o possamos fazer e disso formos capazes. Não sacrificaremos nunca esses valores em obediência a conveniências, de vida ou de ocasião. Quando disso não formos capazes é porque a nossa hora chegou. Preferiremos então ir com honra, a continuar sem ela.

Obrigado a todos quantos, estando connosco, nos têm ajudado a somar anos aos anos que já temos.