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UC participa em estudo de impacto ambiental na plataforma continental do Algarve

22 de Junho 2022 Jornal Campeão: UC participa em estudo de impacto ambiental na plataforma continental do Algarve

Segundo indica um estudo publicado na revista Marine Pollution Bulletin, foram encontrados, ao longo da zona litoral do Algarve, entre Sagres e Portimão, metais pesados e contaminantes.

Esta investigação reporta a presença de vários poluentes inorgânicos e orgânicos relacionados com a actividade humana, entre os quais, diferentes metais pesados e até microplásticos, comprovando que “a presença humana tem deixado uma assinatura poluente na zona costeira do Algarve, com impacto negativo, por exemplo, ao nível da biodiversidade”.

Os dados obtidos parecem indicar que, nos anos 60, se deu um crescimento abrupto dos índices de poluição, mas, curiosamente, nos últimos anos, essa poluição parece ter abrandado ligeiramente, “à excepção da zona do rio Arade, devido a descargas regulares que lá são feitas”, afirmou Pedro Costa, do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), co-autor do artigo científico.

Segundo o investigador da FCTUC, se forem consideradas as alterações climáticas, é expectável que “passemos a ter mais eventos de alta energia, quer em precipitação quer em tempestades, o que vai causar fenómenos erosivos mais intensos”. Em Portugal, há já um vasto número de zonas sob pressão, o que significa que “este problema vai agudizar-se inevitavelmente”. Neste sentido, salientou, ainda, que “sempre tivemos poluição, mas com os forçamentos climáticos em mudança e com os níveis energéticos destes eventos extremos (tsunamis, tempestades e cheias), fenómenos que seriam de pouca intensidade podem vir a provocar graves consequências negativas e desequilíbrios graves nos sistemas costeiros”.

Este estudo foi desenvolvido no âmbito do projecto internacional “OnOff”, que reúne mais de duas dezenas de investigadores e é liderado por Pedro Costa. Este projecto realizou a cronografia de eventos extremos (tsunamis e tempestades) e dos efeitos da contaminação humana nesta zona de Portugal ao longo dos últimos 12 mil anos.

Iniciado em 2018, o OnOff procura essencialmente reconstruir integralmente os eventos extremos e os seus impactos na costa portuguesa, com base em evidências geológicas, ou seja, “procura ir buscar informação aos fundos submarinos para efectuar a reconstrução de eventos extremos, quer de tsunamis quer de tempestades ou cheias, e também de fenómenos mais recentes, como os de poluição”, explicou o responsável pelo estudo.

Para esta reconstrução histórica dos eventos extremos no mar ser possível, os cientistas realizaram uma série de campanhas de mar – as chamadas sondagens submarinas – ao longo da costa do Algarve, recolhendo amostras de água, sedimentos e dados geofísicos entre os 500 e os 30 metros de profundidade. Segundo explicação de Pedro Costa, “a informação obtida no mar é conjugada com os dados obtidos em terra, em zonas lagunares e estuarinas do Algarve”. O investigador referiu, ainda, que contribui para “a compreensão dos processos morfodinâmicos e hidrodinâmicos associados às ondas de tsunami e tempestades que atingem a costa portuguesa e, por analogia, em outros cenários semelhantes a nível mundial”, frisou. Além disso, contribui para a “produção de cenários prováveis de inundações por tsunamis e tempestades para a costa de Portugal (que é a região tsunamigénica mais activa do Atlântico), apoiando assim a gestão das áreas costeiras pelas autoridades governamentais com dados úteis no planeamento, no ordenamento e também na operacionalização”.

Além da Universidade de Coimbra (UC), o projecto integra as Universidade de Lisboa (UL), Universidade do Algarve (UAlg), o Instituto Hidrográfico e a Agência Portuguesa do Ambiente, em Portugal. Fora do país, engloba a Universidade de Aachen (Alemanha) e o Serviço Geológico dos Estados Unidos (United States Geological Survey). O projecto é co-financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), por fundos europeus e, ainda, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), Brasil.