Coimbra  29 de Dezembro de 2025 | Director: Lino Vinhal

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Portugal reduz risco de pobreza mas 300 mil crianças vivem abaixo do limiar

29 de Dezembro 2025 Jornal Campeão: Portugal reduz risco de pobreza mas 300 mil crianças vivem abaixo do limiar

O risco de pobreza em Portugal desceu em 2024 para o valor mais baixo dos últimos 20 anos, revelando uma evolução positiva dos indicadores sociais. Ainda assim, a realidade permanece exigente: cerca de 1,7 milhões de pessoas continuam a viver abaixo do limiar de pobreza, entre as quais aproximadamente 300 mil crianças.

De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), 15,4% da população encontrava-se em risco de pobreza em 2024, menos 1,2 pontos percentuais do que no ano anterior. O limiar de pobreza correspondeu a rendimentos monetários anuais líquidos inferiores a 8.679 euros por adulto equivalente, o que se traduz em cerca de 723 euros mensais.

A redução verificou-se em todos os grupos etários, com particular destaque para a população idosa, onde a descida foi mais acentuada e teve um impacto decisivo na diminuição global da taxa de pobreza. Ainda assim, os dados revelam que, apesar do progresso, a pobreza continua a afectar uma parte significativa da sociedade portuguesa.

Uma actualização ao estudo sobre desigualdades e pobreza em Portugal, promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, sublinha que, embora cerca de 100 mil pessoas tenham conseguido sair da pobreza em 2024, o país mantém desafios estruturais profundos. Segundo a investigação, 18,6% da população encontra-se em situação de pobreza ou exclusão social e 8,6% da população empregada aufere rendimentos insuficientes para escapar à pobreza.

O estudo, iniciado em 2016 e coordenado por Carlos Farinha Rodrigues, mostra que, nos últimos 30 anos, a taxa de pobreza diminuiu 7,6 pontos percentuais e o número de pessoas pobres reduziu-se em cerca de 29%. Apesar disso, Portugal continua a figurar entre os países da União Europeia com maior incidência de pobreza.

As crianças e os jovens são o grupo etário onde a redução da pobreza foi mais tímida. Com base nos dados mais recentes disponíveis, a incidência da pobreza é mais elevada entre os adolescentes dos 12 aos 17 anos, que representam cerca de 40% das crianças em situação de pobreza. Aproximadamente um quarto destas crianças vive em famílias monoparentais, maioritariamente chefiadas por mães solteiras, e mais de 20% integra famílias numerosas. Em cerca de 75% dos casos, o trabalho constitui a principal fonte de rendimento do agregado familiar.

Geograficamente, a pobreza infantil concentra-se sobretudo nas grandes áreas metropolitanas: 54% das crianças pobres residem na Grande Lisboa e na região Norte. O estudo destaca ainda que a taxa de pobreza ultrapassa os 38% entre crianças com pais de nacionalidade estrangeira.

Entre as famílias com crianças, registou-se um ligeiro aumento da incidência da pobreza, que passou de 16,4% para 16,6%, com especial incidência nas famílias monoparentais, onde a taxa supera os 35%. Em sentido contrário, as famílias sem crianças observaram uma redução significativa da pobreza, influenciada sobretudo pela melhoria da situação das famílias unipessoais, em particular aquelas compostas por um único idoso.

Apesar da melhoria dos indicadores de privação material e social, persistem fragilidades relevantes: mais de 29% dos inquiridos afirmam não ter capacidade para suportar uma despesa inesperada. O estudo sublinha ainda que, sem o impacto das transferências sociais, a taxa de pobreza em Portugal ultrapassaria os 40%.