Coimbra  11 de Novembro de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Espanha trava ligação circular entre Extremadura e Portugal — Interior volta a ficar para trás

10 de Novembro 2025 Jornal Campeão: Espanha trava ligação circular entre Extremadura e Portugal — Interior volta a ficar para trás

A Associação Ibérica de Turismo Interior (AITI) manifestou o seu profundo desagrado face à decisão do Ministério de Transportes e Mobilidade Sustentável de Espanha de recusar autorização à criação de uma ligação circular internacional proposta pela empresa FlixBus, entre a Extremadura e Portugal.

Em comunicado, a AITI considera “profundamente lamentável” a decisão tomada sem consulta prévia à Junta da Extremadura, sublinhando que o episódio confirma um padrão já conhecido: “o Interior permanece sistematicamente ausente do centro das decisões que determinam a vida de quem aqui estuda, trabalha e investe”.

Segundo a associação, foi a própria AITI quem iniciou as conversas com a FlixBus para a concepção da rota, delineada sem custos para o erário público e com o objectivo de servir o interesse geral das populações fronteiriças. Para os municípios portugueses abrangidos, a ligação representaria um reforço efectivo da conectividade diária, melhor acesso a serviços, maior capacidade de atracção de investimento e dinamização do turismo — benefícios agora adiados pela decisão espanhola.

O traçado proposto incluía o seguinte percurso: Castelo Branco → Termas de Monfortinho → Moraleja → Cáceres → Mérida → Badajoz (Aeroporto) → Elvas → Portalegre → Castelo Branco.

De acordo com a AITI, este corredor integrava centros urbanos, polos administrativos, equipamentos de saúde e um nó aeroportuário, estruturando uma resposta diária e bidireccional às necessidades de residentes, empresas e visitantes. A associação chama também a atenção para o impacto no ensino superior, lembrando que ao longo desta rota existem seis polos universitários que continuam sem alternativa ao automóvel particular. “Num contexto em que tanto se invoca a mobilidade sustentável e a redução da pegada carbónica, é inaceitável que milhares de estudantes, docentes e trabalhadores do conhecimento dependam exclusivamente do transporte individual para cumprir funções essenciais.”

A associação defende que “a coesão territorial não pode ser um princípio selectivo” e apela a um envolvimento mais activo e público dos municípios portugueses abrangidos pela rota, considerando-o “imprescindível ao desenvolvimento dos territórios de interior.” Até ao momento, lamenta a AITI, não se registaram demonstrações claras de apoio a este projecto, nem iniciativas junto do Governo espanhol ou das instituições da União Europeia para reverter a decisão.

“Quem dirige estes territórios deve adoptar uma postura diferente: a mobilidade, a competitividade e a qualidade de vida exigem acção concertada e cooperação transfronteiriça efectiva. Não se governa em ilhas.”, sublinha a nota.

A Associação Ibérica de Turismo Interior reafirma, por fim, a sua total disponibilidade para colaborar com as autoridades nacionais e autonómicas, com os municípios e com os operadores de transporte, com vista a transformar esta proposta em serviço efectivo para as pessoas e para a economia real do Interior.