Nasceu a 5 de Setembro de 1957 em Azurém (Guimarães). Completa amanhã 68 anos. Cresceu em Fafe, onde se iniciou na carreira política, tendo aos 19 anos sido vice-presidente da câmara local. Luís Marques Mendes licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra, sendo desde 1975 militante do PSD. Integrou os três Governos liderados por Aníbal Cavaco Silva ao longo de dez anos, e voltou ao Executivo com a pasta dos Assuntos Parlamentares, em 2002, quando Durão Barroso era Primeiro-Ministro. Líder parlamentar do PSD entre 1996 e 1999, foi também presidente dos sociais-democratas de 2005 a 2007. Membro do Conselho de Estado nos últimos 15 anos, Marques Mendes avança para Belém porque considera que pode “ser útil” ao País. Em entrevista ao “Campeão das Províncias” assume ter capacidade para “fazer pontes de entendimento” e deixa um alerta: “Portugal não pode passar a vida em eleições”. Elege ainda a habitação, a saúde, os salários e as pensões como áreas vitais em que é preciso actuar.
Campeão das Províncias [CP]: Quais as motivações que o levam a candidatar-se à Presidência da República e que Presidente pretende ser, comparativamente a todos os antecessores no cargo?
Luís Marques Mendes [LMM]: Candidato-me porque, modéstia à parte, acho que posso ser útil ao País. Primeiro, pela minha experiência. Depois, pela capacidade que tenho de fazer pontes de entendimento. Finalmente, porque em Belém deve estar um Presidente com sentido de equilíbrio e moderação. Não há dois Presidentes iguais. Cada Presidente é ele próprio e as suas circunstâncias.
[CP]: O Presidente da República é, por natureza, um garante da estabilidade. Como conciliará essa função com o facto de ter sido, ao longo da sua carreira, uma voz marcadamente opinativa e crítica no espaço público? Está preparado para abdicar dessa centralidade?
[LMM]: Sempre defendi a estabilidade. Como comentador, cidadão e actor político. Por isso, sou coerente. Estarei em Belém como sempre estive na vida: a defender a estabilidade e a tentar evitar crises. Portugal não pode passar a vida em eleições.
[CP]: O facto de ter estado durante muito tempo na qualidade de comentador televisivo foi uma preparação para este momento? Considera que foi uma espécie de pré-campanha que lhe pode ser útil junto do eleitorado?
[LMM]: Não. Nada disso. Há 15 anos, quando comecei a fazer comentário, nem sonhava sequer com a hipóteses de ser Presidente da República. A ideia de ser candidato é muito recente. O comentário só pode ter tido uma vantagem: os portugueses passaram a conhecer-me bem e a conhecerem o meu pensamento. Um voto na minha candidatura não é um voto no escuro.
“As pessoas estão fartas da vida política tal como ela existe”
[CP]: Tem defendido reformas profundas no sistema político. Se for eleito, está disponível para convocar ou promover um debate nacional sobre uma eventual revisão constitucional? Que “linhas vermelhas” considera inultrapassáveis e quais admite pôr em causa?
[LMM]: Reformar o sistema político é necessário, sem dúvida. As pessoas estão fartas da vida política tal como ela existe. Gostam da democracia, mas não estão felizes com o estado da democracia. Há que ter a coragem de mudar. O Presidente da República não faz leis, mas pode e deve influenciar. É o que eu farei.
[CP]: Já foi quase tudo na política. Vivemos tempos de desconfiança das elites. Sendo, como é, um candidato oriundo do “sistema”, como pretende convencer os eleitores de que representa uma alternativa real?
[LMM]: Quem vem de fora da política não tem qualquer experiência. É uma aventura. Um tiro no escuro. Quem tem experiência política tem outra preparação e traquejo. Pode dar outras garantias. Julgo que no estado em que está o mundo, a Europa e o País, a experiência conta. É a minha opinião. Mas os portugueses é que decidem.
[CP]: Quando fala dos perigos de Portugal ter um Presidente da República sem experiência política, em que se consubstanciam esses perigos?
[LMM]: Um Presidente da República sem experiência corre o risco de andar aos ziguezagues, de não ser previsível, estável e coerente. E isso é um risco para o bom funcionamento da democracia.
[CP]: Se tivesse de usar o poder de veto apenas uma vez em todo o mandato, em que tipo de matéria política ou legislativa o exerceria, sem hesitação?
[LMM]: O poder de veto só pode ser usado em concreto. Não em abstrato. E um Presidente da República não deve andar a fazer comentários e análises. Acabou o meu tempo de analista e comentador.
[CP]: É sabido que defende um acordo para a estabilidade entre PSD e PS, para que não apresentem moções de confiança, nem moções de censura, e tenham de negociar Orçamentos. Acha que será fácil levar essa intenção a bom porto no actual quadro parlamentar?
[LMM]: Fácil não é. Mas impossível também não. A questão que se coloca é outra: é necessária a estabilidade ou não? Eu acho que sim. Não podemos andar a fazer eleições de ano a ano. Se assim é, temos de trabalhar pela estabilidade. Os partidos têm de se habituar a colocar o interesse do País acima das suas ambições partidárias. E o Presidente da República tem de fazer essa pedagogia junto do Governo e dos partidos.
[CP]: Em termos económicos e sociais, o que mais o preocupa e em que áreas pretende trabalhar, se for eleito?
[LMM]: Habitação, saúde, salários e pensões. São quatro áreas essenciais. Temos de resolver o problema da habitação. Temos de reforçar o Serviço Nacional de Saúde, grande conquista de Abril. Temos de subir salários, em especial para os jovens. E temos de melhorar as pensões. Claro que o Presidente da República não governa. Mas tem de “puxar” pelo Governo para ajudar a resolver estes problemas.
“A imigração é uma oportunidade com problemas”
[CP]: Quanto ao tema da imigração, qual a sua visão sobre esta matéria para Portugal? E como analisa a forma como o assunto tem sido tratado pelos partidos em Portugal no último ano?
[LMM]: A imigração é uma oportunidade com problemas. Uma oportunidade porque há falta de mão-de-obra, porque, de outra forma, perdemos população e porque hoje os portugueses já não aceitam fazer certos trabalhos (por exemplo, na agricultura). Mas é uma oportunidade com problemas. O grande problema é a integração. Precisamos de imigrantes bem integrados. Esta deve ser agora a grande prioridade – integrar bem os imigrantes. Desde logo, os seus filhos. Nas escolas. A aprenderem português. Um filho de imigrante feliz e a falar português deixa os seus pais mais felizes e integrados.
[CP]: Como olha para os restantes candidatos que estão nesta corrida (em particular António José Seguro, o Almirante Gouveia e Melo e António Filipe) e, na sua visão, o que o distingue de cada um deles no espaço ideológico?
[LMM]: Respeito todos os candidatos. São todos bem-vindos. Quem julgará as diferenças entre cada um são os eleitores. Pela minha parte haverá sempre uma campanha pela positiva: sem ataques e sem maledicência. Estou aqui para unir e não para dividir.
[CP]: Por fim, que tipo de campanha irá fazer e que tipo de candidato pretende ser junto do eleitorado?
[LMM]: Uma campanha simples, pedagógica, alegre e mobilizadora. A contar com todos. Mas especialmente com os jovens. Sem juventude, não há alegria nem haverá futuro.
Entrevista: Ana Clara (Jornalista do “Campeão” em Lisboa)
Publicada na edição em papel do Campeão das Províncias de 4 de Setembro de 2025