Na fotografia: Andy Shih e Vanessa Coelho-Santos
Uma equipa de investigação internacional, liderada pela neurocientista Vanessa Coelho-Santos, da Universidade de Coimbra (UC), revelou que as microglias, células do sistema nervoso central responsáveis pela defesa imunológica do cérebro, se comportam de forma distinta ao longo da vida, sobretudo perante lesões cerebrais. O estudo, realizado em colaboração com o Seattle Children’s Research Institute, foi recentemente publicado na prestigiada revista científica Cell Reports.
As microglias desempenham um papel essencial no combate a infecções e patogénios, sendo consideradas as principais sentinelas do cérebro. Contudo, segundo a investigadora do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da UC, ainda persistem muitas lacunas sobre o modo como estas células evoluem desde o nascimento até à velhice.
“Usámos um modelo animal e recorremos a um laser de alta precisão para causar lesões localizadas no tecido cerebral, simulando também lesões vasculares que bloqueiam temporariamente o fluxo sanguíneo. Isto permitiu-nos comparar a resposta das microglias a diferentes tipos de lesão ao longo da vida”, explica Vanessa Coelho-Santos. “Concluímos que a idade tem um impacto marcante na morfologia e dinâmica destas células”.
Os resultados mostram que, durante o período neonatal, os primeiros 28 dias de vida, as microglias são particularmente dinâmicas, mas a sua resposta a lesões é tardia e exagerada. Na idade adulta, apresentam uma elevada eficácia na resposta aos danos, enquanto que, no envelhecimento, perdem complexidade e capacidade de reacção, tornando-se mais lentas.
Esta investigação ajuda a compreender por que motivo existem vulnerabilidades diferentes ao longo da vida, associadas a doenças do neurodesenvolvimento, em fases precoces, ou a défices de resposta em idades mais avançadas. “Ao percebermos como é que as microglias se distribuem e actuam na defesa do cérebro em diferentes fases da vida, acreditamos que podemos, futuramente, criar terapêuticas mais personalizadas”, afirma a investigadora da UC.
O estudo utilizou uma técnica de imagem avançada, a microscopia de dois fotões, que permite observar, com grande precisão, as células do cérebro ao longo do tempo, possibilitando uma análise sem precedentes do comportamento das microglias.
Intitulado Physiological and injury-induced microglial dynamics across the lifespan, o artigo científico pode ser consultado na íntegra em: www.cell.com/cell-reports/fulltext/S2211-1247(25)00762-4.