Coimbra  28 de Dezembro de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

António Campos

A nobreza da política

19 de Dezembro 2025

Nasci e cresci num grande berço familiar épico de solidariedade.

A política para mim desde muito jovem foi sempre olhar com sentido crítico para o problema dos outros e do meu País.

Os meus foram sempre secundários.

Atraiu-me desde sempre a inteligência e o convívio com pensadores nacionais.

Cresci no meio de um vulcão de lutas contra a opressão, a violência, a miséria, a ignorância, o medo etc.

Tinha os meus refúgios de discussões contra esse vulcão opressivo com o dr. Fernando Vale, Miguel Torga, prof. Manuel Monteiro, o homem mais culto do meu concelho, na mesa do café Arcádia em Coimbra com os profs. Universitários Fernando Martins, Paulo Quintela, etc.

Em 1963, através do dr. Fernando Vale, conheci Mário Soares com quem fiz uma forte amizade política solidária de irmão ao longo dos anos.

Eram discussões clandestinas infinitas sobre os graves problemas nacionais e mundiais, sem balizas mentais.

Eram cidadãos superiores de inteligência, princípios, convicções e ética á prova de balas da opressão e da violência que nos rodeava.

Tenho muitas saudades dessas discussões com esses génios do pensamento e uma enorme revolta com a mediocridade política, cívica e colectiva de pensarem actualmente o País e o Mundo, após a realização de tantos sonhos e utopias realizadas.

Com a entrada da extrema direita neofascista na cena política nacional a discussão de ideias desapareceu e prevalece o insulto e a boçalidade.

Na minha situação de velho, mero atento e crítico espectador do que me rodeia, a solidão é a grande opção altamente privilegiada para este final de vida.

A nobreza da política é a humildade de ouvir e pensar sempre com elevado sentido crítico os problemas dos outros e do País.

(*) Fundado do Partido Socialista