Com o avançar da idade, os ex-combatentes da Guerra do Ultramar começam inevitavelmente a escassear. Ainda assim, para além dos tradicionais convívios de companhias e batalhões, persistem pequenos grupos de camaradas que, uma ou duas vezes por ano, se reúnem para partilhar memórias, boas e más, e reforçar laços criados em cenários de grande exigência humana. A cada novo encontro, renova-se a amizade nascida em África entre 1961 e 1974, uma ligação marcada por momentos de tensão, sacrifício e coragem que permanece indelével. Para muitos, estas confraternizações são também uma forma de atenuar traumas e pesadelos que a guerra deixou para sempre gravados.
Cerca de duas dezenas desses antigos militares, pertencentes à Companhia de Caçadores 2730, voltaram a encontrar-se recentemente. Serviram em Mueda, no norte de Moçambique, para onde embarcaram a 20 de Maio de 1970, no navio Niassa, regressando apenas a 30 de Junho de 1972. Dessa comissão regressaram, como frequentemente acontece na guerra, “mais pobres do que partiram”: sofreram 10 mortos, 15 feridos graves e 54 feridos ligeiros em combate nas longínquas terras africanas. Em 2022 assinalaram os 50 anos do regresso, mas um núcleo mais restrito, unido por uma amizade profunda, continua a reunir-se sempre que possível.
Desta vez, o ponto de encontro foi o Restaurante Caçarola Dois, na Figueira da Foz, após convite de Mário Esteves, antigo integrante da Companhia 2730. O almoço-convívio coincidiu ainda com o aniversário de dois dos presentes, Moreira e Américo, motivo adicional para celebrar.
Durante o encontro, Mário Esteves agradeceu a presença dos companheiros e dos convidados José Duarte, presidente da Assembleia Municipal da Figueira da Foz, e António Miguel Lé, destacado armador local. No final, deixou um apelo emocionado: que “esta união nunca se perca e se mantenha sempre até ao último militar da Companhia de Caçadores 2730”.