A criação dos Centros Hospitalares em Portugal foi uma medida adequada, em racionalização de recursos técnicos, humanos, bens e equipamentos e gestão em eficiência e eficácia. Tal não se pode confundir com a situação de desvalorização do Hospital Geral (HG) (Covões), reduzindo-o a asilo ou casa de repouso, expurgada a tecnologia, serviços e recursos. Em Lisboa, a criação dos Centros Hospitalares (Central, Ocidental, Oriental, por exemplo), não levou à retirada de serviços de topo nos Hospitais de Santa Cruz ou Santa Marta (por exemplo), mantendo-se a sua elevada performance, qualificação técnica, garantia de qualidade e serviço às populações abrangidas.
O facto de existir um CHUC que prossiga os objectivos dos Centros Hospitalares não significa que seja útil nem necessário para as populações a destruição do HG (Covões), para fazer crescer a qualidade de serviço nos Hospitais da Universidade de Coimbra, mas limitada pela sobrecarga de utentes e sua proveniência geográfica que transformam a elevada capacidade técnica dos recursos humanos em verdadeiro caos no atendimento e cuidados, conforme qualquer utilizador como doente (inclusive profissionais e gestores) podem constatar de per si.
É assim benéfica, a existência de 2 pólos hospitalares integrantes de um Centro Hospitalar, com aproveitamento das suas capacidades técnicas, espaços funcionais / área útil de utilização e construção e áreas geográficas adjacentes, e acessibilidades em transportes, aparcamento e concepção ecológica e ambiental.
Impedir concepção hospitalocêntrica
O acesso impõe a garantia de quatro dimensões: a disponibilidade de serviços de saúde no local apropriado e quando são necessários; os cidadãos poderem aceder aos serviços, independentemente da sua capacidade de pagamento e do custo desses serviços (pelo que se saúda a aprovação do fim das taxas moderadoras geradas nos Centros de Saúde); o grau de informação dos doentes; e a aceitabilidade, baseada na natureza dos serviços e sua percepção pelos indivíduos e as comunidades.
É exemplo de boa medida organizacional a estruturação e dinamização da articulação e complementaridade entre vários níveis de prestação de cuidados de saúde, mas salvaguardando a especificidade de cada um e impedindo qualquer concepção hospitalocêntrica.
O encerramento do Serviço de Urgência do HG (Covões), ao qual já a administração tinha retirado as características de Urgência Polivalente ou sequer Urgência Médico-Cirúrgica, transformando-o em Centro de Atendimento Clínico, que significa serviço de atendimento de doença aguda que deveria ser da competência dos Centros de Saúde (embora pouco apreciado pelas USF, não tendo indicadores de saúde a valorizar em remuneração, de forma expressiva), será a última facada no Hospital Geral Central dos Covões, que deixou de ter serviços e recursos porque lhe foram paulatinamente retirados.
Já em 1995 existiam as Unidades de Saúde que promoviam a articulação de cuidados, essencial para a acessibilidade, o sucesso dos cuidados de saúde, a descentralização e a rentabilidade, Coimbra Norte (com os HUC, hospitais periféricos e Centros de Saúde interior Norte) e Coimbra Sul, que integrava este Hospital, o Hospital Distrital da Figueira da Foz e os Centros de Saúde de Coimbra e Leiria.
Hoje, temos um “monstro”, que chega a atingir 18 horas de tempo de espera em urgência (pulseira amarela), meses e anos em consultas hospitalares e cirurgias. Coimbra vai continuar a ficar para trás? Acredito que não, se a autarquia e o povo assim quiserem.
(*) Médico