Coimbra  20 de Outubro de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Jaime Ramos

O PSD ganhou as autárquicas

17 de Outubro 2025

O PSD teve o maior número de votos, de presidentes de Câmara e de Juntas de Freguesia. Venceu nos maiores concelhos do País: Lisboa, Sintra , Porto , Vila Nova de Gaia

O PS, depois do desastre estrondoso nas legislativas, recuperou um pouco de ânimo. Nestas autárquicas o PS perdeu por menos, mas foi derrotado quando comparamos com as eleições de 2021.

As eleições autárquicas são locais não nacionais, os jornalistas adoram esquecê-lo.

Quando escolhemos um Presidente de Câmara de Assembleia ou de Junta decidimos com base nas pessoas e nos projetos locais.

Ao votar nas legislativas pensamos no Primeiro-Ministro e não na lista de deputados.

Esta eleição “direta” no líder do partido tem degradado a democracia. Os deputados salvo raras exceções são paus mandados, deputados de “cu”, que se levantam e sentam de acordo com a vontade do “dono”.

O problema não é só português. Em França, na votação no General de Gaulle, estudos mostraram que quanto mais desconhecido era o candidato mais votos teve o partido gaullista . Os franceses queriam Charles de Gaulle … se o candidato do seu partido (RPF) era conhecido, tinha anticorpos próprios, que prejudicaram o resultado.

Em Portugal esta ideia que os eleitores votam no chefe foi levado ao extremo pelo Chega nestas autárquicas.

Os candidatos a presidentes de câmara, pessoas politicamente inexistentes, salvo raras exceções, apareceram nos outdoors sempre ao lado de Ventura.

A ideia publicitária foi: vote neste desconhecido que está ao lado de Ventura e esqueça os problemas, as ambições, as necessidades do seu concelho.

Os votantes do Chega, tirando os jovens, são eleitores que há décadas votam no “contra”, alguns arrebanhados, desde as primeiras eleições depois do 25 de Abril, por propostas extremistas .

O Chega chegou a segundo partido nacional conseguindo resultados espetaculares nos distritos (concelhos) que votavam há décadas no PCP ou em soluções esquerdistas do “contra”.

Foi no Alentejo, Setúbal, na cintura industrial de Lisboa, nas Caldas, e noutros locais semelhantes que o Chega atingiu os seus máximos eleitorais.

No País a norte de Rio Maior, onde o PPD-PSD sempre foi tendencialmente dominante, o Chega teve resultados medíocres.

Com o Chega a esquerda extremista míngua e o populismo de direita cresce. Sempre se soube que na política os extremos se tocam, ou sejam os eleitores “do contra” estão disponíveis para trocar de símbolo, são trânsfugas, mas não deixam de preferir o populismo, mais ou menos radical.

Nestas eleições autárquicas a comunicação social, centralista, instalada em Lisboa, voltou a contribuir para degradação da política.

Os jornalistas e os comentadores cobrem a campanha ao redor dos líderes partidários, desprezando os candidatos e os anseios locais. Esta realidade desinformativa , não só esquece os concelhos menos populosos, todas as cidades e as capitais de distrito  , como despreza mesmo os maiores , Lisboa , Sintra, Vila Nova de Gaia e Porto.

A empresa Spinumviva da família de Montenegro foi transformada , pelo Ministério Público e pelos jornalistas,  em importante facto político como se tivesse importância para o eleitor que quer escolher o melhor projeto e o melhor presidente para a sua autarquia.

A degradação da democracia tem tido o dedo da comunicação social podendo ser acelerada pelas redes sociais, permissivas às Fake News .

Esta nacionalização política das eleições locais já originou algumas crises políticas. Recordo a destruição da Aliança Democrática após as eleições autárquicas de 1982, que venceu, e a demissão de António Guterres depois das locais de 2001.

O resultado destas autárquicas apontam para leituras políticas muitas diferentes.

O Chega revelou a sua fragilidade. É um partido de um demagogo só, sem quadros. Tendo sido o segundo partido nas legislativas teve um resultado medíocre nestas autárquicas. Tendo anunciado que queria 30 câmaras elegeu só 3 presidentes representando 3/385 dos municípios , menos de 1%, menos que o CDS  que tem 6 presidentes e que o PCP com 12 . Os comunistas perderam 7 municípios, continuando no seu declive com derrotas dolorosas em Beja e Setúbal.

O Bloco de Esquerda é uma nulidade política a nível autárquico mostrando ser um partido de nicho, de “betos” radicais de esquerda, acantonados em universidades, sem inserção real na sociedade.  O livre com uma Câmara fez melhor que o BE, que a Iniciativa Liberal ou o PAN . Os independentes, que em 2021 venceram 20 municípios, voltaram, em geografias diferentes, a conquistar o mesmo numero.

Em termos de votos o Chega teve mais que o PCP mas menos de 1/3 de cada um dos dois grandes. Foi um “flop” perante as expectativas criadas.

O PS, passou de terceiro nas legislativas a segundo partido nas autárquicas, perdendo 26 câmaras a nível nacional. Saboreou algumas vitórias surpreendentes em capitais de distrito, como Viseu e Coimbra, na região centro.

No Distrito de Coimbra o PS teve um resultado desastroso, salvo do KO pela vitória em Coimbra.

No distrito o PS perdeu 5 câmaras, 3 para independentes e 2 para o PSD. 

O PSD a nível distrital não soube aproveitar as divisões socialistas em Condeixa, Poiares, Soure e sofreu o desaire de Coimbra.

Tenho uma visão negativa da liderança do PSD no distrito, assente num poder de militância concelhia de Coimbra que tem afastado os melhores quadros.  A forma suicida como se tornou dependente, do independente José Manuel Silva, estratégia que terminou nesta derrota, revela a necessidade imperiosa de o PSD mudar internamente, sob pena de se tornar irrelevante.

As vitórias em Miranda e na Lousã não atenuam o sabor amargo de o PSD não ter aproveitado as divisões socialistas.

Em Miranda a vitória esmagadora do PSD teve um significado especial. O candidato anunciado, que se tinha preparado ao longo de 8 anos, faleceu de forma súbita em Maio, obrigando a uma substituição “in extremis”. Perante o vazio José Miguel Ramos Ferreira foi obrigado a dizer presente e assumir a candidatura, que não tinha preparado.

Conseguiu uma vitória estrondosa revelando qualidades políticas muito acima da média.

Em síntese o Chega é um partido de um homem só, que cresce na demagogia, sem militância, sem quadros que lhe garantam implantação.

O regime continua a ter na implantação territorial um sistema bipartido, dividido entre os dois grandes, PS e PSD.

Com estes resultados o líder do PS pode ambicionar a manutenção no cargo pois não se confirmou a hecatombe que muitos previram.

Montenegro reforçou o PSD o que lhe permitirá um diálogo mais profícuo com os dois maiores partidos da oposição.

O regime nasceu com 4 grandes partidos: CDS, PPD-PSD, PS e PCP. Perante a queda do CDS a democracia acentuou o peso dos dois partidos do Bloco Central, com esvaziamento lento do PCP. O Chega nas últimas legislativas representando um populismo de direita radical conseguiu surpreender. Nestas autárquicas revelou fragilidades. Ventura vai apostar tudo nas presidenciais para ganhar protagonismo. O PS esta fazer exatamente o contrário, desvaloriza-se, não apoiando Seguro.