A ANGES – Associação Nacional de Gerontologia Social assinalou esta terça-feira o Dia Internacional do Idoso com um alerta incisivo: apesar de Portugal ser um dos países mais envelhecidos da Europa, a maioria dos programas eleitorais para as autárquicas de 12 de Outubro praticamente ignora as necessidades da população sénior.
Segundo dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), o índice de envelhecimento atingiu 192,4 idosos por cada 100 jovens em 2024, face a 188,1 no ano anterior. A idade mediana da população subiu para 47,3 anos, num país com 10,7 milhões de residentes, dos quais cerca de 2,6 milhões são idosos.
“Estamos perante um paradoxo incompreensível”, denuncia a associação. “Portugal é o segundo país mais envelhecido da Europa, apenas atrás de Itália, mas a maioria dos programas eleitorais continua a ser escrita como se vivêssemos numa sociedade jovem dos anos 80.”
As eleições autárquicas assumem, neste contexto, uma relevância particular. Com 817 candidaturas a disputar 308 câmaras e mais de 3.200 freguesias, a ANGES lembra que o poder local tem um papel central na qualidade de vida dos idosos, dado gerir transportes públicos, centros de saúde, espaços verdes, serviços de proximidade e segurança do território.
Contudo, a análise feita pela associação revela uma “preocupante ausência de propostas inovadoras”. Em vez disso, os programas repetem promessas já conhecidas, como apoiar centros de dia ou construir novos lares. “É uma mão cheia de coisa nenhuma. Onde estão as respostas inovadoras? A tecnologia assistiva? Os programas de habitação sénior? As cidades amigas dos idosos? As iniciativas de preparação para o envelhecimento activo?”, questiona a ANGES.
Envelhecimento acelerado e riscos para o sistema social
As projecções demográficas são claras: até 2100, Portugal poderá ter 316 idosos por cada 100 jovens, perdendo 2,6 milhões de pessoas em idade activa. Actualmente, existem apenas 2,6 pessoas em idade de trabalho por cada idoso, quando há duas décadas eram quatro.
Para a associação, este desequilíbrio ameaça a sustentabilidade do sistema social e de saúde. “Se não forem implementadas mudanças estruturais, corremos o risco de assistir à falência da Segurança Social e ao colapso do SNS”, alerta a ANGES, defendendo maior investimento nos cuidados de saúde de proximidade e programas que evitem a institucionalização massiva.
“Última oportunidade eleitoral”
A associação considera que os próximos quatro anos de mandato autárquico serão decisivos para o futuro do país. “Ou os eleitos locais assumem a responsabilidade de liderar a transformação necessária, ou estaremos a hipotecar irremediavelmente o futuro de Portugal”, sublinha.
Num apelo directo aos eleitores, a ANGES desafia-os a questionar os candidatos sobre as suas propostas concretas para o envelhecimento, lembrando que “num país envelhecido, políticas para idosos não são um nicho eleitoral – são uma necessidade nacional”.