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Estudo feito na Serra da Lousã mostra que é essencial actuar cedo sobre as acácias

16 de Setembro 2025 Jornal Campeão: Estudo feito na Serra da Lousã mostra que é essencial actuar cedo sobre as acácias

Um estudo liderado por uma investigadora da Universidade de Coimbra (UC) permitiu concluir que actuar mais cedo sobre as pequenas populações de acácias, uma espécie invasora, é essencial para travar o seu avanço.

Raquel Juan Ovejero, investigadora do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e da Universidade de Vigo, dirigiu a investigação, realizada na Serra da Lousã, que analisou como a invasão da acácia-mimosa e da acácia-negra afecta o ambiente.

A FCTUC refere que a invasão por acácias tem consequências críticas para a estabilidade das florestas da faixa atlântica da Península Ibérica e, mesmo em níveis reduzidos de presença, o seu impacto é notável, tanto na vegetação como no solo.

A investigação analisou de que forma a invasão das duas espécies afecta a estrutura da vegetação, a qualidade do solo e da folhagem (em termos de teor de carbono e azoto), e as comunidades de colêmbolos – pequenos invertebrados do solo fundamentais para o ciclo de nutrientes e para a decomposição da matéria orgânica.

Realizado na Serra da Lousã, uma região com paisagem florestal fragmentada, onde coexistem plantações de pinheiros e outras coníferas introduzidas, florestas nativas de carvalhos e castanheiros, bem como matos mediterrânicos, o estudo analisou também os efeitos em cascata que estas alterações podem provocar no funcionamento geral do ecossistema.

“À medida que aumenta a sua cobertura [da planta invasora], diminui de forma significativa a abundância de plantas herbáceas e a riqueza de espécies, o que se traduz numa perda clara de biodiversidade”, explicou a responsável do estudo.

Segundo Raquel Juan Ovejero, não só se detectou uma redução na relação carbono/azoto da folhagem e um aumento do carbono orgânico com a invasão das acácias – alterações que modificam a disponibilidade de nutrientes e os processos de decomposição -, como também se registaram impactos na fauna.

A investigadora destacou ainda que os diferentes grupos funcionais de colêmbolos responderam de forma desigual às modificações no solo e na folhagem, evidenciando “alterações subtis, mas relevantes na dinâmica dos ecossistemas”.

Os especialistas concluíram que “as intervenções precoces são mais eficazes, menos dispendiosas e reduzem o risco de consequências ecológicas graves”.

No entanto, a gestão requer acompanhamento contínuo, dado que ambas as espécies possuem bancos de sementes persistentes e podem rebrotar após perturbações.

A restauração de ‘habitats’ nativos foi apontada como “uma ferramenta fundamental para reforçar a estabilidade dos ecossistemas e prevenir novas invasões”.

De acordo com a investigação, as acácias australianas tornaram-se, pouco a pouco, num dos principais problemas ambientais da região mediterrânica: a sua capacidade de fixar azoto, formar massas densas e substituir a vegetação autóctone altera profundamente a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas.

“Em Portugal, a situação é especialmente grave. É o país mediterrânico com maior número de espécies de acácias invasoras, favorecidas pelo abandono rural e pela fragmentação florestal”, sublinhou Raquel Juan Ovejero. A Galiza acompanha esta tendência, sofrendo também uma expansão acelerada destas espécies.

“Estes factores aumentam a vulnerabilidade das florestas e matos, onde as acácias avançam rapidamente e provocam perdas de biodiversidade, alterações no solo e maiores dificuldades na gestão florestal”, afirmou.