Desde Fevereiro de 2025 que está instalado na aldeia de Signo Samo, concelho da Pampilhosa da Serra, um ‘campo experimental do medronho’, destinado a testar novos métodos de fertilização e produtividade de solos ocupados pela espécie medronheiro (Arbustus unedo), reforçando, em simultâneo, a capacidade de sequestro de carbono.
A iniciativa, que contemplou a instalação de cerca de 500 plantas, foi realizada no âmbito do projecto ‘Carb2Soil’, envolvendo a Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra e o Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) – líderes do projecto -, com o contributo do Município de Pampilhosa da Serra e da empresa Lenda da Beira.
Numa parcela com aproximadamente 7.000 m2, o ensaio, concebido pela Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), vai estudar o desenvolvimento de medronheiro em condições de disponibilidade de água reduzida e testará a resposta da espécie a substratos não convencionais, com diferentes combinações e proveniências.
Foi com “entusiasmo e espírito colaborativo” que o Município se associou a estes trabalhos de investigação e experimentação realizados no território, que “são uma mais-valia futura para a fileira do medronho, para os nossos produtores e interessados neste tipo de cultura, capacitando-os de mais informação, conhecimento e ferramentas inovadoras”.
Em declarações ao “Campeão das Províncias”, o presidente da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, Jorge Custódio, explica que se trata de um projecto liderado pelo Instituto Politécnico de Coimbra, com diversos parceiros, nomeadamente a CIM-RC, o município de Pampilhosa da Serra, enquanto agente facilitador no terreno e a empresa Lenda da Beira.
“No caso concreto da instalação deste campo experimental de medronheiro, foi desde a primeira hora que o Município acolheu a ideia de o implantar no nosso território, porque de facto é uma mais-valia e contribuirá para enriquecer o conhecimento da fileira do medronheiro”.
O edil adianta que a iniciativa pretente, por um lado, “encontrar novas formas de assegurar a fertilidade e os serviços ambientais fornecidos por solos saudáveis, como o aumento do sequestro de carbono e, por outro, abordar o problema dos resíduos e efluentes de origem pecuária”.
O projecto vai estudar o desenvolvimento de medronheiro em condições de disponibilidade de água reduzida. Sobre este ponto, Jorge Custódio é claro: “este é um ensaio em terrenos de baixa fertilidade, onde se instalou uma espécie autóctone, o medronheiro, resistente e a adaptada às condições destes terrenos de montanha”.
“Valorizar a fileira” na Pampilhosa
“Constitui-se como um teste à resposta do medronheiro a várias alternativas de resíduos e fertilizantes, nomeadamente o uso de resíduos florestais, estrume de explorações pecuárias, adubos sintéticos e associações simbióticas do medronheiro com micorrizas. A utilização destes produtos na instalação de pomares de medronheiro tem por objectivos melhorar a fertilidade dos solos, nomeadamente em termos de matéria orgânica, aumento da biodiversidade e saúde dos solos, bem como a retenção de água e carbono”.
No caso da Pampilhosa da Serra, aponta o edil, a utilidade de espécies como o medronheiro “é grande” porque como a maioria do território do concelho é florestal, este permite a produção de fruto em terrenos com pouca aptidão agrícola, criar manchas de descontinuidade, através de um mosaico agroflorestal e aumentar o sequestro de carbono em relação a materiais finos como são os matos com a vantagem de melhorar os solos, aumentar a biodiversidade e gerar economia através da fileira do medronheiro.
“Estamos certos de que no pós-projecto, a parcela continua a ser um local de trabalho e visita por parte de investigadores e agentes da fileira do medronho como tem acontecido na exploração da Lenda da Beira nos últimos anos”, acrescenta o presidente da Câmara da Pampilhosa da Serra.
Jorge Custódio diz que “é com tremenda satisfação e entusiasmo que o Município acolhe este tipo de projectos, porque aliam a investigação e experimentação feita no território, ajudando a valorizar a fileira do medronheiro e afirmar o concelho com uma das principais referências da região centro em termos área plantada e reconhecimento do trabalho feito no medronheiro”. Por outro lado, enfatiza, “espera-se que os resultados obtidos estejam ao serviço dos produtores e futuros investidores, e que se possa verificar que é possível fazer culturas em terrenos que outrora eram matagais, valorizando-os a nível ambiental e económico”.
Recorde-se que o ‘Carb2soil’ envolve mais de 20 parceiros, entre agricultores, associações sectoriais, instituições de ensino superior ou organizações políticas regionais como a CIM Região de Coimbra e a DRAPC. A gestão administrativo-financeira está a cargo do Instituto de Investigação Aplicada (i2A), unidade orgânica de investigação do IPC.
‘Carbo2Soil’: garantir a sustentabilidade da Humanidade
O projecto ‘Carbo2Soil’ aborda quatro problemas fundamentais no futuro da Humanidade no Planeta Terra, e em particular em Portugal:
1) a fertilidade do solo num futuro pós-pico do petróleo, em que os factores de produção derivados do petróleo se tornarão gradualmente mais proibitivos, torna imperativo encontrar novas formas de assegurar a fertilidade e os serviços ambientais fornecidos por solos saudáveis;
2) o problema dos resíduos e efluentes de origem pecuária, que representam um sério problema ambiental e por vezes de saúde pública;
(c) a emissão de gases com efeito de estufa, sobretudo o metano, resultante da atividade pecuária e de algumas culturas, em especial o arroz;
(d) a capacidade de manter os níveis de produtividade agrícola, para satisfazer uma população mundial crescente.
O ‘Carbo2Soil’ contribui igualmente para a prossecução da visão europeia de desenvolvimento sustentável, ao concorrer para a implementação da estratégia de economia circular, servindo para a afirmação do sector agrícola como ponto focal do fecho dos ciclos de nutrientes e de energia, “fundamental para o sucesso da implementação do conceito de economia circular a longo prazo”, lê-se na ficha do projecto.
A iniciativa contribui ainda para a implementação da ‘Missão Solos do Horizonte Europa’, procurando uma complementaridade e eventual colaboração com esta iniciativa da União Europeia (UE). Está ainda alinhado com a Estratégia Nacional para os Efluentes Agropecuários e Agroindustriais (ENEAPAI 2030), ao nível da priorização das soluções preconizadas e dos objectivos de reduzir os impactos ambientais, e contribui ainda para a redução das emissões de metano. Neste sentido, além dos tratamentos aos resíduos animais, o ‘Carb2Soil’ centra-se em soluções recentes de redução das emissões de metano pela cultura de arroz, de forma a reduzir o impacto de regulamentos que a UE está a preparar para incentivar a diminuição das emissões de Gases com Efeito de Estufa, e que podem ter um impacto nefasto na produção de arroz. Os tratamentos incluem o uso de biochar, capaz de reduzir as emissões em mais de 30%, de acordo com alguns estudos recentes do sudeste asiático.
Texto: Ana Clara (Jornalista do “Campeão” em Lisboa)
Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 8 de Maio de 2025