As calamidades naturais e incidentes têm valorização de acordo com o prejuízo humano e material que afecta as pessoas, e têm uma dimensão que lhe é dada pela comunicação social, que disseca o assunto, com apresentação de factos e seu enquadramento, análises diversas de comentadores, potenciais soluções de especialistas e atribuição de culpas ou méritos políticos.
No caso do apagão da energia, ainda não sabemos as causas, mas ficamos a saber que a existência de “black start” (arranques autónomos de energia) minimiza o problema, existindo duas estruturas desse tipo (Castelo do Bode – Abrantes e Tapada do Outeiro – Gondomar, criada pelo governo socialista de António Guterres em 1999), tal como as inovadoras micro redes eléctricas resilientes fornecedoras de energia para grandes edifícios ou comunidades de energia, criadas pela Engenharia Electrotécnica da FCTUC.
Já tudo foi dito, com destaque para as responsabilidades e destaque do governo da AD, gizando muitas promessas (depois de casa roubada, trancas à porta), como é o caso da eventual criação de duas novas “black start” pelo governo actual, em Alqueva e Sabor, fazendo auto-elogios de que tudo correu bem e foi bem feito, escondendo mais uma vez a ministra da Administração Interna da área, sem falar das falhas do SIRESP e da Protecção Civil, e do plano de emergência ativado quando já havia energia.
Mas não há dúvida que, ao contrário da campanha eleitoral de Montenegro, em debate e fora dele, a comunicação aos cidadãos falhou.
Pessoas receosas e faltou comunicação
Quando o evento generalizado se iniciou, no País, em Espanha e parcialmente em França, é natural que as pessoas ficassem intimidadas, receosas ou mesmo apavoradas, lembrando-se de imediato que há guerras na Europa e no Médio Oriente (além das guerras esquecidas), e que daí poderia estar a ser gerada uma desgraça, quando se ouvem as constantes ameaças nucleares da Rússia.
Ou, perante as alterações climáticas que são uma realidade e que apenas alucinados como Trump negam, pudesse estar a ser desencadeado um desastre global, com ou sem mão humana, e que pusesse em perigo os bens e as vidas de cada um.
Se houvesse competência e bom senso dos governantes, teriam sido aproveitadas as oportunidades de comunicação de informação tranquilizadora para os cidadãos, pelos meios disponíveis, pelo menos temporariamente (SMS com encaminhamento para rádio, autarquias com acção de rua, protecção civil com informação atempada e periódica, SIRESP funcional, plano de emergência activado em tempo), para além das longas reuniões de articulação de estruturas, com ou sem resultados visíveis e participativos de forma maior ou menor.
A prova que a comunicação do governo não funcionou é o facto de os cidadãos de forma massiva terem recorrido, alarmados e em pânico, ao açambarcamento de produtos em superfícies comerciais e abastecimento combustível, quando uma informação constante, a existir, os levaria à calma necessária e à serenidade, aguardando a resolução do problema.
Os hospitais públicos com geradores que não asseguravam um período médio/longo de funcionamento, os hospitais privados a encerrarem por poupança económica ou falta de alternativas de energia, a circulação rodoviária descoordenada, as falhas de produtividade empresarial, os serviços públicos não funcionantes, aumentaram o temor das pessoas e famílias, descompensando o equilíbrio natural.
Há muitas fontes de informação. Infelizmente, nem todas credíveis, nem sempre disponíveis, e nem sempre dispensadas por quem deveria ser responsável pela segurança.
(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra