Ao longo de praticamente três décadas, o PS impôs-se como partido central e dominante da política portuguesa. Através de António Guterres, José Sócrates e António Costa, os socialistas dominaram de forma quase ininterrupta o poder em Portugal. As pausas (de Durão/Santana e Passos Coelho) foram curtas e, sem excepção, em momentos de dificílimas circunstâncias.
Durante esses quase 30 anos, o país foi incapaz de resolver os seus principais desafios e, em vários casos, até os agravou. Foram décadas de crescimento económico anémico, redução do poder de compra, envelhecimento da população, aceleração do centralismo, deterioração dos serviços públicos em especial da saúde, educação e justiça.
Foi, também, um tempo em que o PS se viciou perigosamente no poder e no Estado. Razão principal para a geringonça de 2015 (que levou os socialistas a um radicalismo de esquerda do qual agora não consegue sair) e para a tentativa de apear Luís Montenegro após um único ano de governação.
A incapacidade do PS em ficar fora do poder conjugada com a falta de preparação de Pedro Nuno Santos lançaram o país num novo período eleitoral, criando uma instabilidade que supera os tempos da primeira República.
Luís Montenegro venceu as legislativas de 2024 por margem curta. Durante um ano, com uma base parlamentar muito frágil, foi dando passos importantes e adiados durante décadas. Restabeleceu a justiça com professores e vários sectores da função pública, apoiou os mais velhos de forma decisiva com medicamentos e reforço das pensões, criou políticas de forte apoio a jovens através de políticas fiscais no IRS e no incentivo à habitação.
Ainda que para um português normal seja incompreensível estarmos forçados a novas eleições, a verdade é que é fundamental sairmos delas com condições para um ciclo de estabilidade que permita ao país mudar.
(*) Advogado e gestor