Hoje, não vou protestar, exigir, elogiar, rebater, incriminar, propagar, defender ou atacar, sempre com respeito e elegância, concordando ou discordando, com convicção e sem prosápia como intenção.
Este é o último 25 de Abril do mandato que me foi conferido pelos cidadãos e pelas intercorrências de 4 anos, fonte de tristeza, de exercício democrático, de maior ou menor elevação, de estilo fomentador ou nem sempre do convívio interpares, de dever cumprido, de serviço público, de seriedade e honestidade, de opinião livre, franca e aberta, conquistada em 25 de Abril.
O 25 de Abril foi e é para todas e para todos.
Em primeiro lugar, o 25 de Abril é para o povo português que, com a sua adesão, mobilização e intervenção, transformou um golpe de Estado em revolução democrática, secundando a coragem dos capitães de Abril que, de norte a sul, imobilizaram os resíduos caducos das forças contrarrevolucionárias, tementes do poder político fascista e dos seus privilégios.
O 25 de Abril foi portanto, também para o MFA, com Salgueiro Maia, Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço, Melo Antunes, Pezarat Correia, Franco Charais, Vítor Alves, Carlos Fabião, Matos Gomes e muitos outros capitães de Abril (concretamente 146), que dele nem sempre foram reconhecidos, pouco beneficiaram, muito foram atacados e desconsiderados, havendo até uma esfinge que foi presidente da República que recusou uma pensão ao capitão Salgueiro Maia, a atribuir-lhe por “serviços excepcionais e relevantes prestados ao país”, mas atribuiu essa mesma pensão a dois antigos agentes da PIDE.
25 de Abril, sempre!
O 25 de Abril foi para os resistentes antifascistas, que foram violentados, torturados, mortos, pelo regime da ditadura que, do assassinato de Humberto Delgado às prisões de Caxias e outras, rasgou a liberdade, agrediu a expressão do pensamento, forjou torcionários, bufos e agressores impunes, prendeu, violou e matou.
O 25 de Abril foi para os convertidos à democracia, por esclarecimento dos seus direitos ou por oportunismo vulgo vira-casacas, para os camuflados que não pagaram pelos seus crimes, para os bombistas que até se sentam na Assembleia da República em lugar de destaque, para os sabotadores do aprofundamento da democracia e dos direitos humanos.
O 25 de Abril foi e é para as gerações que se seguiram, que não viveram a repressão nem a libertação, mas têm o poder legítimo de construção da sua emancipação, autonomia e independência, em direitos humanos, em nome da sua personalidade individual, de causas públicas e do desenvolvimento sustentável.
51 anos depois, 25 de Abril é quase uma data residual, feriado conveniente equiparado a qualquer outro (como se fosse religioso ou republicano desvalorizado), esvaído de significado histórico (porque quem faz a história é ingrato), cujo conhecimento é pífio, porque os decisores cuidam de cerimónias mais do que do ensino-aprendizagem.
Por isso, termino, fazendo um apelo. Os velhos passaram à história (ou nem isso) e os poderes públicos esperam que morram (talvez sem honra nem glória), mas aos jovens adultos rogamos que preservem a liberdade, que estimulem a democracia, que pugnem pela justiça social, que cuidem da coalizão da saúde, da educação para todos, da habitação digna, da segurança social pública, da solidariedade efetiva para os mais desfavorecidos.
Tanta vez, repetimos 25 de Abril, sempre! Mas foi e é isto o espírito do 25 de Abril, materializando direitos humanos, conciliando respeito e dignidade, lutando pelo bem comum, pela vida e qualidade de vida.
(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra