Coimbra  13 de Maio de 2025 | Director: Lino Vinhal

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João Vasco Ribeiro: Bombeiros Voluntários de Coimbra estão ao serviço da comunidade

20 de Abril 2025 Jornal Campeão: João Vasco Ribeiro: Bombeiros Voluntários de Coimbra estão ao serviço da comunidade

Esta semana, o programa Praça da República recebeu, nos estúdios da Rádio Regional do Centro, em conversa também com o “Campeão”, o engenheiro João Vasco Ribeiro, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra. Esta corporação assinalou mais um aniversário, oportunidade para ficar a conhecer melhor o meritório trabalho em prol dos outros.

Campeão das Províncias [CP]: Fazendo um rescaldo, como é que correram as comemorações dos 136 anos dos Bombeiros Voluntários de Coimbra?

João Vasco Ribeiro [JVR]: Eu diria que correram bem, ou muito bem. Nós estamos progressivamente a melhorar, o nosso objectivo é sempre melhorar. As comemorações normalmente eram feitas no quartel, e nós fizemos ali uma pequena cerimónia, no dia 7, que é de facto o aniversário, mas as comemorações públicas são sempre no domingo seguinte e, portanto, passámos agora a ir para o Pavilhão Centro Portugal e Parque Verde, que é um espaço onde temos melhores condições, estamos mais à vontade.

[CP]: É sempre um momento de partilha, de família, sem as outras preocupações todas?

[JVR]: No fundo, as comemorações são isso mesmo. São um momento em que nós pensamos: O que é que estamos a fazer? E para trás? O que fizemos? O que estamos a fazer de bom e o que é que estamos a fazer mal? No fundo, para ver como será o futuro. Quer dizer, o futuro é feito todos os dias, mas para isso precisamos sempre da cidade, dos parceiros, da comunicação social, de toda essa parte que é fundamental para que as coisas aconteçam. E a comemoração é sempre o momento de afectos, as pessoas trazem as famílias e, portanto, é uma partilha de afectos e de homenagem aos bombeiros voluntário. É principalmente para eles, corpo de bombeiros, e para aqueles que, para além disso, no dia-a-dia, trabalham para para que nós possamos servir cada vez cada vez melhor a comunidade.

[CP]: E o que é que sublinhou no seu discurso, no âmbito destas comemorações?

[JVR]: Sublinhei esta parte que é muito importante, de pensar naquilo que foi passado pelo legado que nos deixaram, pelas pessoas que fazem as organizações. Nós estamos numa organização sempre centrada nas pessoas e isso é muito importante. Lembrar que desde Simões Paes a Carlos Cidade, há pessoas que passaram, que deixaram a sua marca e que nos devem inspirar a continuar em frente, com vontade de servir melhor e sempre motivados.

[CP]: Mas também abordou outros aspectos…

[JVR]: Sim, essa foi a primeira parte do discurso. Depois vem sempre aquela coisa de espelharmos um pouco as nossas preocupações, o que pretendemos fazer, até porque estão lá as entidades próprias, aquelas que nos devem ouvir. Mas por acaso, este ano, eu estive um pouco a falar de uma forma geral, sem estar muito a pressionar o pedido, aquela parte prática que costuma ser normal. Porque acho que a Câmara sabe o que é que nós precisamos e não vale a pena estar sempre a perguntar e a dizer. Eles sabem, portanto podem sempre ajudar naquilo que são as nossas concretizações, quando pretenderem. E também acontece uma coisa aqui que é fundamental – houve alguém que disse que há um antes e um depois da nossa Direcção e, de facto, nós entrámos e encontrámos os bombeiros, em alguns aspectos, com situações um bocado críticas. E somos, se calhar, quem sabia menos de bombeiros e, por isso, fomos buscar um homem que estava há muito tempo para nos dar o passado, que era e é o Carlos Balteiro, um homem que já está nos órgãos sociais há muitos anos, Fomos, no fundo, fazendo uma aprendizagem, percebendo e mudando. E foi uma mudança um bocado radical que nós introduzimos naquela organização.

[CP]: Era isso que eu ia questionar. Foi reeleito há pouco tempo, quer dizer que os sócios validaram o vosso primeiro mandato.

[JVR]: Validaram. Eu é que achava que um mandato chegava e sair bem seria sempre uma coisa boa, não é? Fui muito pressionado para continuar mais um mandato, mas estamos de facto a criar aqui uma dinâmica também de aprendizagem, de modo a que gente mais nova possa continuar. Nós temos uma estratégia, definimo-la à partida, vamos cumprindo essa estratégia e, inclusivamente, ultrapassámos aquilo que foram os nossos objectivos e havia alguns ambiciosos… E nós ultrapassámos coisas que não eram fáceis, como praticamente não ter ambulâncias e ter os sócios sempre a questionarem: o que é que nós ganhamos com isto de ser sócios? E pronto, nós tratámos muito dos sócios. Fizemos, no fundo, na minha perspectiva, aquilo que é alguma profissionalização das coisas, ao tentarmos dar à Associação, que de facto merecia, algum tratamento mais empresarial, mais de responsabilidade, para podermos retirar dividendos e poder dar melhores serviços e melhor qualidade. Isso aconteceu e, também, renovámos de alguma maneira os próprios bombeiros, com a entrada de mais gente nova. Nós somos agora, curiosamente, um corpo de bombeiros, uma Associação atractiva. Temos gente a querer vir para os bombeiros, quando isso, no passado, era ao contrário. E também é verdade que os fornecedores antes não nos davam crédito e, agora, andam atrás de nós, e os bancos também, para nós pedirmos empréstimos. É um bom sinal. E isto era impensável, que nós em três anos conseguíssemos passar de pouco mais de 300 e tal mil euros para um milhão e 200 mil de receitas. Isto não é uma coisa fácil e fomos várias vezes questionados sobre o que se estava a passar de diferente.

[CP]: E tudo isso aconteceu a partir do quartel da Avenida Fernão de Magalhães…

[JVR]: É verdade. Encontrámos pessoas para nos ajudarem, projectámos, valorizámos, fizemos projectos e avançámos. Renovámos a frota e comprámos cinco ambulâncias, que eram precisas para prestarmos um bom serviço à população. Actuámos não só naquilo que é o plano normal de proteger a vida das pessoas, mas também para ter actividades na área social, nomeadamente na Baixa de Coimbra. Também tivemos em conta as actividades de carácter ambiental e começámos a fazer alguma cultura de poupança na energia, na água, uma cultura própria no abatimento de viaturas antigas e com essa renovação também uma preocupação de diminuir a pegada de carbono. Portanto, fomos um pouco além daquilo que é normal e vamos continuar assim.

[CP]: Com o que é que se comprometeu para este segundo mandato?

[JVR]: Gosto mais de fazer do que de prometer, porque acho que as promessas se confundem muitas vezes com os políticos. Nós decidimos que já tínhamos todas as condições para tornar efectiva a nossa extensão de São Martinho do Bispo e vamos avançar. Jorge Veloso, o presidente da União de Freguesias e que é um homem conhecedor da vida e dos bombeiros, deu-nos essa oportunidade, que reconhece a importância da margem esquerda e, por outro lado, esta nossa incapacidade de termos uma estrutura que nos dê espaço suficiente na Baixa da cidade. Por mim nunca deixaria aquele quartel, mas acho que temos que fazer uma outra coisa. Estou a falar um bocado do futuro, não estou a dizer que vou fazer isso já, mas devia haver um quartel com outras dimensões de operacionalidade, com outra forma de trabalharmos fora da cidade, fora do casco urbano. Mas ali também é um bom espaço de treino para os nossos bombeiros, porque tenho muito essa preocupação de começar a olhar para ali e perguntar: e se houver um fogo naquela zona da Baixa? Com as casas encavalitadas umas em cima das outras, como é que nos estamos a preparar tecnologicamente para que possamos dar uma resposta mais pronta? Nós estamos ali em termos de proximidade, sim, mas não chega, é preciso haver um conjunto de algumas condições perante aquelas ruazinhas estreitas, onde os carros não passam. Por isso eu queria ter uma área tecnológica, que interviesse mais, com mais força, sobre aquilo que é a operação dos bombeiros e a nossa missão, integrando alguns equipamentos que possamos estudar com a Universidade, para ver como é que nos podemos tornar mais ágeis e também protegendo os próprios bombeiros, porque nós não podemos ir proteger os outros sem nos proteger a nós. E esta foi uma das coisas que fizemos e que não havia. Toda a gente tinha equipamentos de protecção para a área florestal, mas para a área urbana não havia. A Câmara nunca nos tinha oferecido e era uma coisa que devia fazer. Nós andámos aos bocadinhos a comprar, quando podíamos e neste momento temos todos os bombeiros com equipamentos de protecção urbana e florestal.

EM NÚMEROS

No ano de 2024 os Bombeiros Voluntários de Coimbra tiveram a seguinte actividade:

6.320 ocorrências

6.545 veículos utilizados

185.184 Kms percorridos

14.750 operacionais envolvidos

 

ENTREVISTA: Luís Santos / Andreia Gouveia

Publicada na edição em papel do Campeão das Províncias de 17 de Abril de 2025