Nova associação cultural quer revitalizar identidade da Figueira da Foz

A actriz Ana Madureira, vice-presidente da Associação Cultural “O 19 de Junho”, falou com o Campeão das Províncias sobre esta que pretende ser, explica, “uma plataforma para todos os artistas e para todas as associações, criando uma identidade cultural que, inexplicavelmente, a Figueira da Foz não tem”.

Campeão das Províncias [CP]: De onde surge este nome, «O 19 de Junho»?

Ana Madureira [AM]: É um nome que vem da pré-história desta associação, que está no movimento Expedição Zero, de que fizeram parte, entre outros, o Mário Bertô, o José Luís Iglésias, o Fernando Campos e muitos outros, que depois também estiveram, alguns ligados ao jornal Linha do Oeste, e ’19 de junho’ era uma espécie de piada privada entre eles, uma data que eles atiravam quando queriam dizer que era quando as coisas iam acontecer. Nós os mais novos, desta associação, durante muito tempo também não percebemos a mística desta data, mas na apresentação da associação Fernando Campos leu um texto, lindíssimo, em que explica, também que esta é uma data inconvencional, que foge à regra dos números redondos, que incomoda, que está ali entre a Primavera e o Verão, indefinida, por moldar.

[CP]: Vocês apresentam-se como uma Associação de Ideias. Que ideias são essas?

[AM]: A tal Expedição Zero fez muita coisa no seu tempo, uma série de eventos, teatro, dança, música, conversas, debates, e tinham como símbolo a passarola, que nós aceitámos retomar agora nesta nova associação e que vai ser também o nome do nosso jornal on-line, que muito em breve estará disponível. Desse tempo ainda está visível, por exemplo, a escultura que o João Sotero fez e que está à frente da Biblioteca Municipal. Agora somos os mesmos e mais, somos 20 e tal e mais uns quantos, muitos jovens, que se quiseram juntar e ainda bem, porque são o garante de futuro deste projeto, e queremos fazer ainda mais: exposições, espectáculos, conferências, tudo o que a imaginação ditar e que conseguirmos concretizar.

[CP): Já há projectos concretos?

[AM]: Há, há. Temos uma exposição fotográfica sobre o Cabo Mondego que queremos muito levar até ao público e fazer acompanhar de debates, porque é impensável termos aquele património de interesse mundial aqui e não fazermos nada. Falta-nos o espaço, estamos a tentar, junto da autarquia mas também de empresas e privados, porque todos os apoios são bem-vindos. E queremos restaurar o mural do Zé Penicheiro na Praia de Quiaios, já estamos em conversações com as entidades responsáveis e vai acontecer. Outra coisa que queremos fazer é homenagear artistas vivos, queremos começar com o Álvaro Cação Biscaia, já conseguimos encontrar algumas das obras dele que estão espalhadas por colecções privadas e que as pessoas aceitam ceder-nos para efeito dessa homenagem, que está a ser conversada com a família, naturalmente, porque não queremos fazer nada à revelia do artista, mas achamos que é em vida que se deve celebrar a obra. E depois temos mais ideias, todos os dias nos chegam sugestões, até de intercâmbios de exposições e espetáculos, para além de que queremos, enquanto plataforma, trabalhar também com as muitas comunidades imigrantes que vivem connosco, dar-lhes espaço e voz.

[CP]: Quando se fala em identidade cultural, isso significa exactamente o quê?

[AM]: É o conjunto das manifestações artísticas. E isso era o que nós todos já sentíamos há muito tempo e foi o Francisco Rosa, mais conhecido como Chico da Ondarte, que nos juntou, porque percebia que estávamos todos a sentir e a dizer o mesmo, mas cada um para seu lado. Foi uma questão de nos reunirmos e decidirmos avançar, cada um com a sua arte: teatro, música, escultura, literatura, pintura, desenho, arquitetura, fotografia, dança, não importa, é o conjunto que forma essa tal identidade, e é da dinâmica criada entre os artistas que pode e vai nascer algo maior.

A Associação nas palavras da Associação

Odezanovedejunho – Associação de Ideias é uma nova organização cultural, sediada na Figueira da Foz, que promete reforçar o dinamismo artístico e cultural da cidade. Com uma missão clara de valorização das artes e da cultura, a associação assume-se como uma plataforma inclusiva e crítica, pronta a desafiar o status quo e a envolver a comunidade figueirense.

Fundada por um grupo de cidadãos comprometidos com a valorização das artes e da cultura na região, Odezanovedejunho – Associação de Ideias, associação cultural sem fins lucrativos, mas com objectivos claros e princípios sólidos, propõe-se desenvolver, dinamizar, promover e dignificar todas as formas de arte e os seus agentes e proporcionar à Figueira da Foz formas mais instigantes de deleite estético e diversão inteligente, em resposta a uma necessidade sentida de revitalização cultural local.

Para isso, Odezanovedejunho – Associação de Ideias delineou um vasto programa de actividades que envolve desde a preservação e valorização do património artístico e cultural até ao apoio a novos talentos. A associação compromete-se também a prestar homenagens a artistas consagrados e a dar visibilidade a talentos marginalizados, promovendo o retorno de artistas afastados do público figueirense.

Além disso, Odezanovedejunho – Associação de Ideias propõe-se ser uma plataforma de reflexão filosófica, política e científica, visando arejar as mentes e elevar os espíritos da comunidade, bem como colaborar regularmente com a comunidade escolar, estimulando a educação artística, cívica e científica desde as camadas mais jovens.

No seu primeiro ano de actividade, Odezanovedejunho – Associação de Ideias apresentará um calendário recheado de tertúlias, palestras, oficinas de arte, exposições e espectáculos, com a participação de artistas de diversas áreas, como actores, cantautores, declamadores, escritores, escultores, fotógrafos, músicos, pintores, poetas… Entre os artistas confirmados estão Ana Madureira, António Durães, Anselmo Mariano, Carolina Campos, Carolina Rosa, David Fadul, Fátima Santos, Fernando Campos, João Gentil, João Sotero, Jorge Iglésias, José Luiz Iglesias, Leonel Lorador, Lourenço Ataíde, Paulo Madureira, Pedro Abreu, Ricardo Loio, Vítor Filipe, entre muitos outros.

A expectativa é elevada e o entusiasmo palpável. Odezanovedejunho – Associação de Ideias já é, desde a sua génese, mais do que uma associação: é um manifesto cultural em construção.

TEXTO: Andreia Gouveia

Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 17 de Abril de 2025