Investigação científica revela que florestas de produção podem acolher mamíferos como javalis, raposas e até lobos-ibéricos, desde que bem geridas.
Contrariando a percepção generalizada de que os eucaliptais são desertos ecológicos, o projecto WildForests, coordenado pela Universidade de Aveiro (UA), demonstrou que estas florestas de produção podem, afinal, acolher uma diversidade significativa de vida selvagem. Javalis, veados, corços, ginetas, raposas e até o emblemático lobo-ibérico são algumas das espécies identificadas em eucaliptais portugueses.
A investigação, desenvolvida em parceria com o INIAV – Instituto de Investigação Agrária e Veterinária e a FCiências.ID – Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências, veio comprovar, com base em dados científicos, que é possível compatibilizar a produção de pasta de papel com a conservação da biodiversidade.
“O eucaliptal não é um deserto ecológico”, sublinha Carlos Fonseca, biólogo da UA e coordenador do projecto. “Os animais adaptam-se e são muito resilientes; todavia, era necessário termos dados científicos que nos ajudassem a perceber como conciliar a produção florestal com a conservação”, explica o investigador do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA.
A equipa do WildForests estudou as comunidades de mamíferos em oito florestas — duas nativas e seis de eucalipto — e concluiu que, embora as florestas nativas apresentem maior diversidade, os eucaliptais também funcionam como habitat para várias espécies, desde que haja uma gestão florestal ajustada.
Entre as medidas simples e de baixo custo sugeridas pela investigação estão, por exemplo, a manutenção de matos e vegetação natural junto a linhas de água e em algumas manchas dispersas no interior das plantações. O objectivo não passa por interromper a produção, mas por criar um equilíbrio sustentável entre o rendimento económico e a protecção ambiental.
Estes dados, recolhidos por uma equipa composta por investigadores, alunos de doutoramento e mestrado, serão fundamentais para ajudar proprietários e gestores florestais a adaptar as suas práticas e alcançar certificações florestais, hoje em dia cada vez mais valorizadas.
O lobo-ibérico, espécie protegida e símbolo da fauna ibérica, foi já observado a reproduzir-se em zonas de eucaliptal no centro do país — um sinal claro de que a coexistência entre a produção florestal e a vida selvagem é não só possível, como desejável. A UA mostra, assim, que com conhecimento, sensibilidade ecológica e uma gestão bem orientada, é possível repensar o papel dos eucaliptais nas paisagens portuguesas.