Coimbra, cidade de poetas e doutores, berço de saber e história, não pode permitir que a sua frondosa paisagem se renda à lógica impiedosa da destruição em nome do progresso. Cada árvore que se ergue nas suas colinas, cada sombra que refresca os seus becos e praças, cada sopro de verde que enriquece o Mondego são testemunhos vivos da harmonia entre o Homem e a Natureza.
O recente anúncio do abate de 40 mil carvalhos e mil sobreiros em Condeixa-a-Nova para a instalação de um projecto fotovoltaico levanta uma questão fundamental: até que ponto estamos dispostos a comprometer a nossa paisagem em nome da sustentabilidade energética? O paradoxo é evidente. Em nome da energia limpa, sacrificamos um dos elementos mais valiosos da nossa biodiversidade – o sobreiro, árvore protegida e essencial para o equilíbrio ecológico da nossa região.
Coimbra, de espírito imortal e alma vibrante, não pode assistir passivamente à degradação do seu património ambiental. Se queremos uma cidade que inspire não apenas pelo seu passado glorioso, mas pelo seu futuro sustentável, é imperativo que as decisões políticas e económicas contemplem não apenas os benefícios imediatos, mas também os impactos a longo prazo. O argumento do desenvolvimento sustentável não pode ser usado como um pretexto para desflorestar e eliminar ecossistemas inteiros.
O sobreiro não é apenas uma árvore. É um símbolo de resistência, um guardião da terra, um refúgio para a vida que nele habita. Contribui para a retenção de água no solo, para a fixação de carbono e para a preservação da biodiversidade. Além disso, a cortiça, uma das maiores riquezas naturais de Portugal, tem um valor económico e ambiental inestimável. Derrubar mil sobreiros não é apenas cortar árvores – é eliminar habitats, empobrecer o solo e comprometer um equilíbrio ecológico que levou séculos a estabelecer-se.
Claro que a transição energética é essencial. A aposta em fontes renováveis é necessária e urgente. No entanto, essa mudança não pode ser feita à custa da destruição do que já é verde. Existem alternativas: a instalação de painéis solares em terrenos já degradados, edifícios públicos, zonas industriais e até mesmo em áreas agrícolas não produtivas. Há soluções inteligentes e sustentáveis que não exigem o sacrifício de árvores centenárias.
A Sereia e o Choupal
E que dizer do Jardim da Sereia? Esse pulmão verde no coração da cidade, que outrora encantou gerações com a sua beleza e serenidade, hoje clama por requalificação. As suas fontes desgastadas, os seus caminhos esquecidos e a vegetação desordenada são reflexos do abandono de um espaço que poderia ser um santuário de lazer e cultura. Coimbra merece um Jardim da Sereia revigorado, onde a história se encontre com o futuro, onde cada árvore seja símbolo de um compromisso renovado com o verde e com a qualidade de vida dos seus habitantes.
E o nosso Choupal? Ó Choupal, cantado por poetas e trovadores, santuário de sombra e silêncio, guardião antigo das margens do Mondego – que nunca te toquem mãos alheias ao respeito. Seja tua copa eterna, tua raiz inviolável, e teu murmúrio de folhas um hino à intocável beleza da Natureza. Que Coimbra seja farol de consciência e progresso! Que o verde que a veste e a enobrece seja respeitado e ampliado, não reduzido a um punhado de memórias.
Plantemos o amanhã, ao invés de o derrubar! Deixemos às gerações futuras uma cidade que respire saúde, planeamento responsável e amor pela Natureza. Que Coimbra, eterna e sábia, ensine ao mundo que progresso e preservação podem – e devem – caminhar de mãos dadas!
Para o leitor, com estima: Sabedoria dos Idiotas, de Nasrudin Hodja.
Hodja convida-nos a questionar a realidade através do espectro do absurdo. Mestre na arte do paradoxo, o sábio tolo desliza entre a ingenuidade e a perspicácia, desafiando-nos a rir enquanto desmonta as certezas que julgávamos inabaláveis.
Com uma enganadora simplicidade, as narrativas revelam verdades sobre a natureza humana, expõe a fragilidade da lógica convencional e a ilusão do conhecimento absoluto. A aparente leveza destas histórias pode enganar os leitores que buscam respostas diretas – pois a verdadeira sabedoria aqui não se impõe, insinua-se…
Mesmo assim creio que este é um livro que brilha porque mostra como a inteligência e o humor podem ser aliados inseparáveis na procura pela compreensão do mundo.
(Com doses iguais de humor e reflexão, é um espelho provocador da nossa própria tolice, um convite irresistível a repensar o que significa ser sábio!)
(*) Doutorando pela FMUC