A correlação entre os níveis de escolaridade e os índices de saúde e bem-estar das populações está hoje bem estabelecida. Independentemente de factores como a idade, o sexo, a localização ou a origem social e demográfica, a educação salva vidas. Esta é a principal conclusão do estudo publicado no The Lancet Public Health, no ano passado, pelo CHAIN (Centre for Global Health Inequalities Research) e pelo IHME (Institute for Health Metrics and Evaluation).
Embora, empiricamente, já se reconhecesse a correlação entre escolaridade e longevidade, este estudo veio acrescentar evidência científica sólida – e números concretos! O risco de morte cai 2% por cada ano adicional de educação. A conclusão do ensino secundário reduz em 25% a mortalidade, e 18 anos de escolaridade reduziram o risco em 34 por cento. Mais: o prejuízo de não ir à escola é equiparado ao de beber cinco ou mais bebidas alcoólicas por dia, ou de fumar dez cigarros por dia durante 10 anos.
Facilmente se compreende que a educação desempenha um papel fundamental na capacitação das pessoas para tomarem decisões informadas sobre a sua saúde, gerirem doenças e adotarem comportamentos preventivos.
Olhando para a realidade nacional, e segundo dados da PORDATA referentes a 2023, Portugal posiciona-se num modesto 25.º lugar, de entre os 27, com somente 32% da população a ter o ensino secundário completo, sendo que essa percentagem desce para 27% se estivermos a falar de ensino superior.
Esses dados reforçam a importância de políticas públicas que promovam a educação e as iniciativas de promoção da literacia para a saúde, como estratégia de melhoria dos índices de saúde e bem-estar das populações, e consequentemente para a sustentabilidade do sistema de saúde, em particular do SNS. A sustentabilidade do SNS depende, mais do que nunca, de uma aposta firme na prevenção como pilar estratégico. Prevenir doenças significa reduzir a pressão sobre os serviços de saúde, evitar hospitalizações e melhorar a qualidade de vida das populações.
Farmacêutico está em posição privilegiada
Em face de uma população que, não obstante a melhoria substancial observada nas últimas décadas, continua a apresentar baixos níveis de escolaridade, importa implementar estratégias e programas nacionais de capacitação e de promoção da literacia em saúde, que devem envolver todos os profissionais, em ações concertadas, com responsabilidades definidas e, tendo como único foco o bem comum.
Pela sua diferenciação técnica e científica, e pela sua acessibilidade à população, o farmacêutico encontra-se numa posição privilegiada para promover a saúde das populações, educar para a adopção de hábitos e estilos de vida saudáveis e capacitar os doentes para o autocuidado. Noutro patamar, caminhamos também para uma intervenção mais estruturada do farmacêutico em situações clínicas de baixa gravidade, evitando que o SNS seja sujeito a uma pressão desnecessária e garantindo o pleno direito das pessoas à terapêutica adequada, em tempo útil.
Queiram os decisores políticos assumir, com coragem, que é urgente entregar aos farmacêuticos, no seio do SNS, responsabilidades próprias e definidas na área da educação para a saúde da população, do acompanhamento farmacoterapêutico, particularmente do doente idoso e polimedicado, da gestão do processo terapêutico dos doentes, entre outras.
Noutras geografias, nas quais estas práticas são correntes, o resultado da intervenção farmacêutica tem tido resultados evidentes e mensuráveis, no que respeita à melhoria do estado de saúde das populações e também no que respeita à optimização e poupança dos parcos recursos públicos disponíveis.
A evidência já falou. Os farmacêuticos estão prontos! Se conhecemos um bom caminho, porque continuamos a ignorá-lo?
(*) Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Farmacêuticos