Coimbra  27 de Abril de 2025 | Director: Lino Vinhal

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“A Fábrica das Sombras” mostra o poder do som no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova

4 de Abril 2025 Jornal Campeão: “A Fábrica das Sombras” mostra o poder do som no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova

A exposição do casal canadiano Janet Cardiff e George Bures Miller “A Fábrica das Sombras”, a inaugurar este sábado, no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra, é como mergulhar em apneia, a partir do poder do som.

No ano de pausa entre edições da Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, a Anozero convidou o casal canadiano Janet Cardiff e George Bures Miller para uma exposição, que estará patente de 5 de Abril a 5 de Julho, percorrendo obras de quase 30 anos de carreira dos dois artistas (sobretudo peças criadas em dupla, mas também individuais).

“Para nós, sempre foi claro que entrar nesta exposição será como mergulhar em apneia e perder as defesas. É um trabalho de imersão. Mais do que obras de arte são experiências imersivas a partir das possibilidades escultóricas do som”, diz o director do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), Carlos Antunes.

No Mosteiro de Santa Clara-a-Nova será possível ver e ouvir peças como “The Infinity Machine”, obra com 150 espelhos antigos que é exposta pela primeira vez fora do continente americano, onde se ouvem as frequências magnéticas registadas na missão Voyager, ou “The Forty Part Motet”, no refeitório do edifício, onde estarão dispostas 40 colunas numa formação oval, de onde saem 40 vozes gravadas e reproduzidas separadamente, que interpretam uma peça coral do século XVI.

Para Janet Cardiff, é “muito impressionante” poder trabalhar num espaço como o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. “Já não se veem espaços assim. Na maioria do mundo, espaços como este já estariam gentrificados, mas este tipo de edifício, com tinta a cair, leva-nos a pensar na história, nas memórias e isso está muito relacionado com o nosso trabalho”, disse a artista, acreditando que o som resgata também essas memórias e até fantasmas presentes.

Performance e música

A inauguração da exposição “A Fábrica das Sombras”, este sábado, promete ser um evento de fusão entre arte, performance e música. A programação começará às 19h30, com um jantar comunitário promovido pela organização da Bienal, composta pelo Círculo de Artes Plásticas, Câmara Municipal de Coimbra e Universidade de Coimbra. Este será seguido de uma visita guiada pelos próprios artistas.

A noite continuará com uma proposta sonora curada pelo Jazz ao Centro Clube (JACC): às 22h30, Mellea, o projecto ao vivo da artista Dullmea, apresentará uma performance imersiva que combina voz e electrónica. Às 23h00, NOIA assumirá a cabine para um after-opening, apresentando as sonoridades mais ousadas da música de dança contemporânea.

José Miguel Pereira, do JACC, refere que “a ideia foi propor dois momentos distintos, mas complementares. Um mais contemplativo e outro mais dançável. A Fábrica das Sombras nasce com esse espírito de multiplicidade e liberdade, e quisemos que isso estivesse presente desde o início”.