Portugal parece, cada vez mais, uma mesa de bilhar inclinada para um único buraco. Ao longo das últimas décadas, agravaram-se as assimetrias territoriais e aprofundou-se o desequilíbrio entre litoral e interior.
A ausência de políticas consistentes de valorização dos territórios fora dos grandes centros obriga milhares de portugueses a migrar em busca de oportunidades. Jovens que, nascendo em Trás-os-Montes, Beiras ou Alentejo, sentem que só poderão concretizar os seus projetos de vida em Portugal se forem para Lisboa ou, com alguma sorte, para o Porto.
Esta desigualdade é inaceitável. Um país moderno e justo deve garantir que um jovem tem acesso às mesmas oportunidades, independentemente do código postal onde nasce.
Este desequilíbrio, além de devastador para o interior, representa também um problema real para os grandes centros urbanos. O excesso de população em Lisboa e Porto tem consequências visíveis: habitação inacessível, transportes saturados, falta de vagas em creches, problemas de segurança e degradação da qualidade de vida.
Precisamos de coragem política para reformar o país. E isso passa, também, por repensar o sistema eleitoral.
Não é aceitável que Lisboa e Porto elejam mais de um terço dos deputados da Assembleia da República, deixando vastas regiões praticamente sem representação. Se juntarmos Setúbal e Braga, o cenário torna-se ainda mais desequilibrado.
O território tem de ter a capacidade de assegurar uma representação mínima. Caso contrário, ao não fazermos nada, manteremos o país preso a uma espiral perigosa: mais concentração, mais desigualdade e menos democracia representativa.
Coimbra pode e deve ter um papel determinante na inversão deste declínio. Afirmar-se como área metropolitana, com capacidade politica reforçada, seria essencial para a reconquista do equilíbrio necessário.
Reformar é urgente. O tempo de fingir que não vemos já passou.
(*) Advogado e gestor