Coimbra  17 de Abril de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Joana Gil

Quac, quac!

14 de Março 2025

A Primavera vem aí. O Sol já a anuncia, tímido, muitas vezes ainda atrás das nuvens, mas rompendo cada vez mais cedo pela manhã e descendo no horizonte já visivelmente mais tarde do que nos dias penumbrosos de Dezembro.

E com a aproximação da estação, uma vaga de residentes sazonais regressa à cidade. Discretos, eles começam a ser vistos junto aos lagos e planos de água da cidade. São os patos. É altura de pôr os ovos e os machos, mais vistosos, afastam-se durante algum tempo, para evitar chamar a atenção dos predadores para a zona onde os ovos hão-de eclodir. As fêmeas, cuja plumagem lhes permite camuflarem-se com mais facilidade, estarão, ao longo das próximas semanas, ocupadas a chocar os ovos. Os pequenos patinhos começarão a surgir sensivelmente em Abril.

O grasnado dos patos (e outras aves migratórias) há-de então pontuar a cidade. Em Bruxelas, zona chuvosa e de base até pantanosa, não faltam locais onde os avistar. Mesmo no centro da cidade, pequenos planos de água servem de casa a esta espécie que, embora não seja considerada ameaçada, é protegida em todas as regiões da Bélgica. Em Coimbra a Rotunda dos Patos constitui um bom exemplo de como um espaço urbanizado pode dar casa a animais que aí podem viver em estado selvagem.

O convívio entre patos e pessoas tem, porém, regras estritas em Bruxelas. Segundo o artigo 35.º do Règlement Général de Police Commun aux 19 Communes Bruxelloises, é proibido abandonar, colocar, suspender ou lançar no espaço público, incluindo lagos e águas represadas, qualquer matéria que de algum modo se destine a alimentar animais, nomeadamente gatos, cães, patos, peixes e pombos. As razões são muitas e válidas. Desde logo, os alimentos deixados ao ar livre podem constituir uma fonte de problemas de saúde pública: podem apodrecer e lançar mau cheiro, atrair insectos e ratos, enfim, se não forem consumidos pelos animais a que se destinam são, por si só, fonte de problemas. Mas mesmo se consumidos pelos destinatários de eleição a conduta continua a merecer censura. Sem intervenção humana, os patos, por exemplo, aprendem a caçar insectos e a procurar o seu próprio alimento. Por outro lado, a alimentação que algumas pessoas bem intencionadas facultam aos animais pode por vezes não ser adequada.

Por fim, a sobrealimentação leva a um crescimento desproporcional da população de animais: o excesso de exemplares leva a disputas territoriais entre eles e à degradação do espaço, sobrecarregado por dejectos. Por essa razão, em Bruxelas as normas relevantes do referido regulamento encontram-se por via de regra afixadas nos jardins mais frequentados por animais, para avisar sobre as boas regras de convivência. Receio que os patos não as tenham lido, mas as pessoas devem fazê-lo e adoptar uma conduta que permita uma fruição adequada da presença destes pedacinhos de natureza nas nossas cidades. Por Coimbra, a Rotunda dos Patos é um bom exemplo de como devemos apreciar, desfrutar, mas não perturbar o equilíbrio que a Natureza, mesmo entre estradas e casas, consegue por vezes alcançar.