A Região Centro da Ordem dos Engenheiros (OE) criou o concurso ‘Novos Materiais e Produtos para a Sustentabilidade’, cujas candidaturas decorrem até dia 30 de Julho de 2025. A iniciativa pretende incentivar o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis. Os vencedores serão anunciados até ao final de Outubro de 2025, através de comunicação oficial no portal da OE/ Região Centro, com a entrega dos prémios a decorrer em cerimónia pública, em data ainda a anunciar. Em entrevista ao “Campeão das Províncias”, a presidente do Conselho Directivo da Região Centro, Isabel Lança, fala sobre a importância do projecto.
Campeão das Províncias [CP]: Qual o objectivo deste concurso e por que surgiu a ideia?
Isabel Lança [IL]: O objectivo é o de incentivar o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis no âmbito de novos materiais e produtos que contribuam para o desenvolvimento sustentável nas áreas social, ambiental e económica. A ideia surgiu por ter conhecimento de projectos fantásticos, quer a nível das escolas e das universidades, quer das empresas, que cada vez apostam mais na circularidade, na inovação e na investigação e desenvolvimento de produtos e materiais, e porque a Ordem é responsável pela visibilidade e divulgação do trabalho das 17 especialidades de engenharia que são o instrumento concretizador da mudança, e que nesta matéria se tem vindo a revelar como notável.
Em toda a região Centro e no País, temos uma investigação de excelência e de inovação em diferentes áreas, e ao assumir este desafio pretendemos dar a conhecer o que de melhor se faz no âmbito nacional. Consequentemente, a missão deste concurso é lançar o desafio a três áreas fundamentais em termos de desenvolvimento de forma ser criada uma «networking para potenciar o mercado» com projectos de relevo de economia circular e sustentabilidade. A Ordem dos Engenheiros tem um papel fundamental na divulgação da inovação sendo o espelho da engenharia que se quer no futuro.
[CP]: Sendo uma iniciativa direccionada às escolas e empresas, concretamente na Região Centro, de que forma estes nichos podem ser exemplos de impulso de sustentabilidade?
[IL]: É uma iniciativa da Região Centro com participação a nível nacional. Quanto aos grupos-alvo sabemos que nas Escolas do Ensino Básico e Secundário os alunos são estimulados a trabalhar nos objectivos do desenvolvimento sustentável, em que eficiência, reciclagem, reutilização, e é neste grupo etário que temos de estimular a criatividade, a paixão pela tecnologia e pela procura de novas soluções, por forma a termos os engenheiros do futuro.
É também dar continuidade ao nosso projecto de intervenção nas escolas ‘Tudo é Engenharia em Ti. Engenharia és Tu’, com o objectivo de despertar os jovens alunos para a profissão e de motivação vocacional, em que trabalhamos com a identificação das especialidades de engenharia como instrumento para a realização dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável, que é uma matéria que trabalham curricularmente. Tem sido muito gratificante olhar para a forma como se envolvem no tema.
Para além disso, no prémio da Região Centro das Novas Fronteiras da Engenharia, destinado ao mesmo grupo-alvo, temos constatado ao longo dos anos a importância destes desafios. Nas instituições de Ensino Superior sabemos que estão sempre a ser desenvolvidos projectos e investigações em todos os departamentos de engenharia que carecem de divulgação e de serem apresentados fora do âmbito das comunidades escolares. Nas empresas sabemos o carácter inovador em diferentes sectores, em que a criatividade, sustentabilidade e a circularidade são reconhecidas mais a nível internacional do que a nível nacional, o que é a engenharia no seu melhor.
[CP]: Um dos objectivos é promover a inovação e práticas sustentáveis na Região. Como avalia, regionalmente, estas práticas, sejam em termos empresariais, sejam no contexto da sociedade civil?
[IL]: Na região Centro existem empresas de excelência, cujos volumes de exportação as colocam como líderes nos sectores de mercado em que competem, e queremos que apresentem os seus projectos para os divulgarmos não só à população, mas acima de tudo na casa da engenharia, onde podem constituir uma alavancagem e um exemplo do trabalho que muitas vezes é partilhado com as escolas de engenharia em investigação.
[CP]: O concurso é de âmbito nacional. Alargar o espectro geográfico tem que objectivo?
[IL]: A Ordem dos Engenheiros é nacional e, acima de tudo, a engenharia portuguesa reconhecida pela qualidade e competência tem em todo o território e em todas as especialidades exemplos reais de inovação e qualificação. Ser a Região Centro a criar este concurso é apenas mais uma actividade do trabalho e dos objectivos de sermos promotores da mudança, e esse é o reconhecimento que pretendemos.
“Estamos ainda muito longe de ter uma circularidade efectiva”
[CP]: Vivemos num tempo em que passamos de uma economia linear para circular. Como presidente da Região Centro da OE, de que forma a região tem evoluído nesta matéria e como analisa a forma como os cidadãos olham para estas questões da sustentabilidade?
[IL]: Falar de sustentabilidade é, hoje em dia, um tema corrente do dia-a-dia, mas a prática não se compagina essa ideia. Estamos ainda muito longe de ter uma realidade em que a circularidade seja efectiva, para isso temos de ter alterações concretas, de passarmos de planos e medidas teóricas de desenvolvimento meramente demagógicas para projectos efectivos.
Este é também o grande problema da aplicação de fundos estruturais que necessitam de competência técnica efectiva. E as competências são da engenharia, o que aliás está agora bem claro com a publicação do Regulamento n.º 64/2025, de 13 de Janeiro, que estabelece os actos e competências dos engenheiros. Estamos num ponto de não retorno e todo o futuro está comprometido com a procura de novas soluções, desde o sector da construção, da produção, dos serviços, dos transportes e até da educação. Temos de passar aos actos concretos.
[CP]: A OE, sendo baluarte também da engenharia do futuro, que se quer sustentável, tem também este papel de alerta e impulsionadora desta era de transição energética. Quais são, em termos da engenharia em Portugal, os grandes desafios que temos pela frente nesta matéria?
[IL]: A transição energética é uma matéria que implica o envolvimento global e interactivo em todos os sectores. Actualmente, a energia condiciona os nossos dias, desde as deslocações às condições de habitabilidade, aos serviços essenciais como as diversas redes de abastecimento, os cuidados de saúde, a alimentação, e até o lazer, sendo imperativa uma abordagem transversal e a multidisciplinar.
A OE tem tido um papel activo na abordagem técnica de temas essenciais e por isso tem elegido em cada ano um tema de discussão, os quais têm abrangido os grandes desafios para o futuro como a energia e o clima, a eficiência energética, a eficiência hídrica, os objectivos do desenvolvimento sustentável ou a igualdade de género.
O ano de 2025 vai ser o ano OE da coesão territorial, essencial num território rico em diversidade e em desafios, onde o norte e o sul, o litoral e o interior são palco de diferenças, e onde a premência da optimização de recursos e de definições estratégicas são fulcrais para o crescimento económico e a qualidade de vida das populações, e obviamente a eficiência energética a nível do território nacional.
[CP]: Este concurso é para repetir? Que frutos pretende que deixe para o futuro?
[IL]: Penso que sim. Para o futuro sem dúvida que ficará uma marca daquilo que temos feito, que tem sido ‘A engenharia promotora da mudança’.
Entrevista: Ana Clara (Jornalista do “Campeão” em Lisboa)
Publicada na edição em papel do Campeão das Províncias de 6 de Março de 2025