Desafios nunca o assustaram – e este não foi excepção. Em 2023, António Carlos Albuquerque assumiu, com espírito de missão e sentido de responsabilidade, a liderança do Departamento de Desenvolvimento Económico, Empreendedorismo, Competitividade e Investimento da Câmara Municipal de Coimbra. Desde então, tem estado na linha da frente de uma estratégia ambiciosa para atrair investimento, dinamizar o tecido empresarial e fortalecer a posição de Coimbra como um pólo de inovação e crescimento sustentável.
Com um percurso sólido na administração pública e um vasto conhecimento na área do urbanismo e transportes, António Albuquerque trouxe para Coimbra a sua experiência adquirida em Cantanhede e Figueira da Foz, aliada a uma formação académica de excelência, que inclui um doutoramento em curso na FCTUC/UC. O trabalho tem sido intenso, mas os resultados começam a falar por si: projectos estratégicos em marcha, captação de novos investimentos e um ecossistema empreendedor cada vez mais dinâmico.
Campeão das Províncias [CP]: Como estão as coisas em Coimbra?
António Carlos Albuquerque [ACA]: Nos últimos dois anos, Coimbra tem vivido uma transformação significativa no seu ecossistema económico. Tem sido um trabalho intenso, mas os resultados estão à vista: mais investimento, mais empresas e um ambiente de negócios cada vez mais dinâmico. Só para termos uma noção, desde 2023, nasceram cerca de 1.300 empresas no concelho. Isto demonstra que Coimbra não só está a crescer, como também está a regenerar o seu tecido económico.
Este progresso não é fruto do acaso, mas sim do esforço conjunto de várias entidades – a Câmara Municipal, a Universidade de Coimbra, o Instituto Politécnico, o Instituto Pedro Nunes, as associações empresariais e, claro, os próprios empresários e investidores. Trabalhamos para criar condições favoráveis, atrair investimento e consolidar Coimbra como um pólo de inovação e competitividade.
Um exemplo claro deste dinamismo é o Estádio Cidade de Coimbra, que se transformou num verdadeiro centro empresarial, acolhendo actualmente 22 empresas, a caminho de serem 24 e centenas de trabalhadores. Empresas multinacionais de renome, como a Deloitte ou a Constellation Group, estão instaladas e a crescer. E há mais a caminho, uma multinacional francesa que já confirmou a vinda e uma multinacional alemã que está prestes a confirmar a sua presença na cidade. Coimbra está a mudar e este é apenas um dos aspectos.
[CP]: Quantas e em que sectores surgiram as novas empresas?
[ACA]: Nos últimos dois anos surgiram em Coimbra 1.279 empresas, com sede na cidade e distribuídas por diversos sectores. Destacam-se 90 empresas no sector de Alojamento e Restauração, 90 em Actividades Imobiliárias, 113 na Construção Civil, 48 no sector Industrial, 107 no Retalho, 258 em Serviços Empresariais, 280 em Serviços Multidisciplinares, 108 em Tecnologias de Informação e Comunicação e 123 na Logística e Transportes.
Essas empresas têm um impacto significativo na cidade e na região. Além disso, é importante salientar a presença de multinacionais que, embora não tenham sede em Coimbra, influenciam profundamente o ecossistema empresarial local. Empresas como Airbus, Accenture, Deloitte, PWC, Eugin, Constellation Group, Critical, Feedzai, Taldesk, Noesis, Wit, Mindera, The Loop e RedLight geram riqueza, criam muitos postos de trabalho e contribuem de forma substancial para o desenvolvimento social e económico de Coimbra.
O iParque, por exemplo, esgotou completamente a sua primeira fase e já avança para a segunda, a projectar as infra-estruturas para dar resposta à procura crescente. Paralelamente, a cidade tem agora um projecto estruturado para a nova área logística de Souselas, com 63 hectares, que poderá integrar a rede logística nacional e internacional, em articulação com o Porto de Aveiro e o Porto da Figueira da Foz para além do Município da Mealhada reforçando a ligação ferroviária e rodoviária da região, bem como a notoriedade desta localização estratégica.
[CP]: Quais são os sectores económicos mais característicos de Coimbra?
[ACA]: Coimbra é um pólo relevante no sector da saúde, com grandes empresas farmacêuticas e um sistema hospitalar robusto, incluindo o CHUC e unidades hospitalares privadas. A cidade também se destaca pela sua especialização em tecnologia, particularmente no sector de IT. Outro sector crescente é o turismo, com a cidade a investir na promoção de um turismo sustentável.
Recentemente, Coimbra recebeu um financiamento de 4,9 milhões de euros da Comissão Europeia para o projecto “Coimbra Sustainable Tourism LLM”, que visa mitigar os impactos do turismo massificado, ao mesmo tempo que promove a preservação da qualidade de vida dos habitantes. Este projecto, que será apresentado publicamente em Março, é apoiado pela European Urban Initiative e é o único seleccionado em Portugal entre 22 candidaturas aprovadas. O projecto propõe-se desenvolver ferramentas de monitorização e de apoio ao desenvolvimento de práticas mais sustentáveis, abordando também desafios relacionados com mobilidade, criação de emprego, qualidade do serviço prestado e percepção dos residentes sobre o impacto do turismo.
Liderado pela Câmara Municipal de Coimbra, com a colaboração de parceiros locais como a Universidade de Coimbra, o Politécnico de Coimbra, o Instituto Pedro Nunes, o Turismo de Portugal, a Present Technologies e a Inova+, este projecto visa transformar Coimbra num modelo a ser replicado na Europa, fortalecendo a marca da cidade e colocando-a no radar turístico nacional e internacional. Além disso, Coimbra está a construir um ecossistema de inovação, tornando-se uma referência na criação de soluções tecnológicas para a gestão sustentável de cidades com património cultural. O turismo sustentável surge, assim, como uma nova oportunidade para a cidade, desafiando-a a equilibrar o desenvolvimento económico com a qualidade de vida dos seus cidadãos.
[CP]: Quais são os desafios económicos que se colocam a Coimbra?
[ACA]: Coimbra tem a obrigação de liderar a região, não apenas pela sua relevância histórica e cultural, mas também pelo seu potencial de inovação e capacidade de se reinventar. A região enfrenta o desafio de competir com as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, que, embora grandes, carecem da agilidade e proximidade que Coimbra e a região Centro oferecem. O que se observa em Coimbra, Leiria e Viseu é a necessidade urgente de uma liderança conjunta que potencie o crescimento desta região.
Recentemente, Coimbra assumiu uma posição de liderança ao promover a candidatura ao projecto “Centro Mais Invest”, uma estratégia que reúne pela primeira vez os distritos de Coimbra, Leiria e Viseu numa estratégia comum. Esta candidatura, já vencedora, mas em fase de construção do Plano de Ação, visa a atracção de empresas intensivas em conhecimento e novos residentes, com o objectivo de fortalecer a competitividade da região. A união de forças entre os municípios, incluindo a Figueira da Foz, que agora se junta à estratégia, é fundamental para promover um desenvolvimento coordenado e sustentável.
A região Centro precisa de deixar de lado divisões internas e construir uma abordagem única que ofereça melhores condições para atrair investimentos e resolver desafios comuns. A capacidade de unir Coimbra, Viseu, Leiria e outros municípios numa só estratégia é a chave para o futuro da região, tornando-a mais competitiva e atrativa para investidores e novos habitantes.
[CP]: Quais têm sido as reacções a nível nacional, nomeadamente do Poder Central e de outras regiões do país, ao facto de Coimbra estar no mapa empresarial?
[ACA]: Sentimos que Coimbra se tornou um “incómodo bom” – no sentido positivo –, pois a sua afirmação como um pólo de inovação e investimento tem despertado atenção e, por vezes, até algum burburinho em cidades que estavam habituadas a ter um domínio mais exclusivo sobre as decisões económicas.
A cidade está hoje no radar de muitas empresas e multinacionais, não como uma opção secundária, mas como uma escolha estratégica. O reconhecimento de Coimbra como um território de oportunidades contrasta com a crescente sobrecarga de Lisboa, tornando a cidade uma alternativa viável e atractiva. Naturalmente, este crescimento não significa arrogância, mas sim um esforço sustentado de várias entidades, com destaque para a Universidade de Coimbra, o Instituto Politécnico, o Instituto Pedro Nunes e a Câmara Municipal, que têm trabalhado em estreita articulação para impulsionar o desenvolvimento.
Este despertar de Coimbra não passa despercebido. A cidade tem uma identidade forte, que emociona e envolve aqueles que nela vivem e trabalham. E, mais do que alma, Coimbra tem garra, energia e capacidade de inovação. Por isso, respondendo agora à pergunta inicial sobre como está Coimbra, eu diria: está no rumo certo!
Luís Santos/Joana Alvim