O Reitor da Universidade de Coimbra (UC) afirmou, na cerimónia do 735.º aniversário da instituição, que o estabelecimento de ensino superior já vivenciou momentos de “esquizofrenia geopolítica” mais complexos do que aqueles vividos actualmente.
Ao longo de mais de sete séculos de existência, a UC “esteve sujeita a múltiplas contrariedades”, sempre sendo capaz de superar “com distinção” os problemas com que foi confrontada, defendeu Amílcar Falcão.
“Não me atrevo, por isso, a dizer que a esquizofrenia geopolítica em que vivemos será a mais complexa que a UC alguma vez vivenciou”, sublinhou o Reitor, acrescentado que, ainda assim, enfrentam-se momentos “extremamente complicados” na actualidade.
Para Amílcar Falcão, é muito duro ver os direitos humanos e o direito internacional serem tão maltratados, sendo particularmente penoso estar a assistir a este espectáculo degradante em países cujos regimes se dizem democráticos.
“O primado do capital sobre os valores humanistas nunca foram a matriz da UC. E nunca o deverão ser, porque essa não é a identidade UC”, vincou.
Campus da Figueira da Foz
Na sua intervenção, este sábado, na sessão comemorativa dos 735 anos da UC, Amílcar Falcão abordou a criação, há cerca de dois anos, do Campus da Universidade de Coimbra na Figueira da Foz, classificando como “muito positivo” o balanço deste período.
O espaço, que resulta de uma parceria entre a instituição de ensino superior e o Município figueirense, tem a funcionar, no presente ano lectivo, três cursos conferentes de grau e outros já prontos para serem submetidos à A3ES (Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior).
Segundo o Reitor, a Universidade assinou um segundo protocolo com a Câmara Municipal da Figueira da Foz para expandir as instalações, situadas na Quinta das Olaias, projecto que esperam ter concluído até ao início do ano lectivo de 2026/2027.
Além de anunciar que o Campus da UC na Figueira da Foz vai acolher, no Verão de 2026, os Jogos Mundiais Universitários de Desportos de Praia, Amílcar Falcão revelou que Miguel Pardal, que tem vindo a coordenar a oferta pedagógica do Campus, foi nomeado para o cargo de director do espaço.
A conclusão do processo de integração da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra na UC, em 1 de janeiro de 2026, foi outro dos temas abordados na cerimónia.
Amílcar Falcão destacou ainda que “2025 ficará marcado pelo cruzamento de efemérides de grande relevância histórica e cultural – para a UC, para o país e para a Lusofonia”, como as celebrações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, os 700 anos da morte de D. Dinis e os 735 anos da fundação da primeira universidade portuguesa pelo mesmo soberano.
Os 50 anos de independência de Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, bem como o centenário do nascimento de Carlos Paredes, são outros dos acontecimentos marcantes do ano vigente.
Prémio para Herman José
A sessão comemorativa contou também com a entrega do Prémio Universidade de Coimbra 2025 a Herman José, “o humorista mais consagrado do Portugal democrático”, disse o Reitor.
A celebração dos 50 anos de carreira do também apresentador de televisão, no ano transacto, “coincidiram precisamente com os 50 anos de celebração da revolução dos cravos”, notou.
O laureado com o Prémio UC deste ano (com o patrocínio da Fundação Santander Portugal), presente na cerimónia, declarou que “ser homenageado nesta instituição que há séculos ilumina o pensamento e o saber é a maior das honras”.
Segundo Herman José, receber este tributo de uma instituição que tanto lutou pelo ‘open space’ intelectual, mostra que todos os esforços valeram a pena.
“Este é um prémio sobretudo à liberdade, porque se há uma coisa que eu tenho em comum com esta instituição é esta luta constante por manter as grades das prisões em baixo”, declarou o humorista aos jornalistas.