A Expo 58 foi um evento marcante na cidade de Bruxelas. Constituiu uma oportunidade para, no pós-guerra, revitalizar a cidade e dar-lhe um ímpeto internacional. Neste período, à euforia da (re)construção, juntava-se a euforia automobilística. Adivinhavam-se cidades onde o automóvel era rei, havendo que lhe dar acesso e guarida. Foi neste espírito que se começou a desenhar o Parking 58. No essencial, tratava-se de construir um gigantesco parque de estacionamento, bem no coração da zona mais antiga da cidade. Não em extensão, mas em altura, o Parking 58 era um altíssimo edifício, destinado a receber as muitas viaturas que, imaginava-se, haveriam de chegar à cidade para visitar a grande Exposição. Os números revelariam depois um sucesso modesto do parque numa primeira fase, mas as décadas seguintes viriam a mostrar que os mais de 700 lugares para automóveis não eram despropositados.
O Parking 58 tornou-se, afinal, com os anos, o ponto privilegiado para que quem visitava o centro da cidade pudesse estacionar o carro – a poucos minutos da Grand-Place, mesmo junto ao emblemático e tradicional bairro de Santa Catarina, perto da icónica Bolsa, a dois passos da comercialíssima Rue Neuve. O mamarracho, entalado entre construção tradicional e erguido em direcção ao céu, permitia a quem estacionasse no último andar uma vista deslumbrante sobre a cidade. As vistas eram tão atractivas que havia mesmo quem ali fosse só para ver a cidade de cima, ainda que não tivesse nada para ali estacionar – fala quem sabe e fez!
O século XXI chegou e com ele um impulso de renovação em 2013. Se num primeiro momento as intenções incluíam a revitalização do espaço e o acrescento de lugares de estacionamento, as discussões públicas acabaram por pôr em xeque a ideia de continuar a trazer carros para o centro da cidade. Assim, quanto em 2017 o parque foi definitivamente encerrado, encerrou-se o capítulo daquele espaço como lugar de estacionamento. As obras que se seguiriam redundaram no Brucity – o novo centro administrativo da cidade de Bruxelas, aberto desde 2022.
Mas para os nostálgicos, resta alguma coisa. O topo do edifício do centro administrativo é agora um magnífico miradouro gigante. Tirou os carros, mas conserva as vistas. O acesso faz-se através dos elevadores situados no centro administrativo e lá de cima os olhos abarcam tudo: mesmo aqui a Igreja do Béguinage, a toda a volta o incontável casario, acolá o Palácio da Justiça, a seguir a roda gigante, lá ao fundo o Mausoléu Real, um pouco mais adiante o Atomium, para o outro lado a Basílica de Koekelberg, mais para aqui a Catedral de São Miguel, bem ao longe ainda se avistam as torres eólicas dos arredores da cidade, enfim, a partir do Rooftop 58, Bruxelas toda cabe-nos dentro do olhar.
Coimbra, com as suas colinas, oferece-nos vistas encantadoras onde quer que estejamos. Mas numa cidade bem mais plana, como é Bruxelas, o Rooftop 58 dificilmente tem paralelo na vista panorâmica que oferece a quem o vai visitar – a pé, com certeza.