Um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) está a testar um fármaco que poderá reverter a infertilidade associada à endometriose. A doença afecta uma em cada 10 mulheres em idade reprodutiva, desde a primeira menstruação até à menopausa, e é responsável por dor, podendo limitar a qualidade de vida e a capacidade de engravidar.
De momento, os testes para este fármaco estão a ser realizados em modelo animal, no entanto, a FMUP tem esperança de que a descoberta possa “abrir caminho a novas abordagens terapêuticas na prática clínica”. De acordo com o grupo, “a metformina, um antidiabético oral usado há muitos anos na diabetes tipo 2 para controlar os níveis de açúcar no sangue (glicemia), é eficaz a tratar a infertilidade”. A investigação aponta ainda para “outros efeitos benéficos do fármaco na endometriose, o que, no futuro, poderá levar ao seu reaproveitamento”.
No caso deste fármaco poder vir a ser prescrito, a investigadora Delminda Neves revela que este “pode ser usado na preconcepção e na gravidez”.
O que é?
A endometriose caracteriza-se pela presença de tecido endometrial fora do útero. A doença é estimulada pelas hormonas femininas, havendo um processo inflamatório que dificulta ou impede a gestação. Além disso, a infertilidade associada a esta patologia também pode ser explicada por “razões sistémicas, envolvendo diferentes órgãos e tecidos, como é o caso do tecido adiposo”.
Segundo Delminda Neves, “havendo outros órgãos a influenciar a progressão da endometriose, poderão surgir fármacos que tenham como alvo não somente a regulação de hormonas como o estrogénio, como acontece actualmente, mas que actuem também no tecido adiposo. A metformina é, por isso, um forte candidato”.
O grupo de investigadores pretende, agora, perceber se, para além de controlar a endometriose, este fármaco também poderá ser utilizado para prevenir a possível progressão para tumores, como o cancro do endométrio e o cancro do ovário.
Cátia Barbosa