Fotografia: Lúcia Barão e Ricardo Teixeira
Criar bovinos em sistema de pastoreio, com suplementação nutricional adequada e escolher bem a raça. Esta é a receita que desafia a ideia de a carne bovina ser o alimento com maiores emissões de gases com efeito de estufa (GEE) na sua produção. Da autoria de investigadores do Instituto Superior Técnico e da Faculdade de Ciências, ambas da Universidade de Lisboa, o estudo publicado na revista ‘Environmental Impact Assessment Review’ demonstra que as emissões de GEE da produção de carne bovina podem variar entre 124 kg e apenas 15 kg de dióxido de carbono (CO₂) e por 100 g de proteína, dependendo do sistema de produção adoptado. A investigação aponta, no entanto, que os sistemas baseados em pastoreio tendem a ter menores emissões do que os sistemas de confinamento apenas quando os animais recebem suplementação nutricional adequada. Se os animais em pastoreio não forem devidamente alimentados, o confinamento pode ser a opção com menor pegada de carbono, desafiando a ideia generalizada de que a produção em pastoreio é sempre mais sustentável. O estudo também destaca a importância da escolha da raça, uma vez que algumas têm naturalmente uma menor pegada ambiental.
“Nem sempre é compreendido é que este impacto ambiental tem uma enorme variabilidade. Diferentes raças de bovinos crescem a ritmos distintos e podem ser alimentadas com cereais próprios para consumo humano ou com fontes alternativas, como erva ou subprodutos da indústria agro-alimentar. Além disso, os animais podem ser criados em pastagens ou em confinamento. Até agora, era difícil perceber como estas diferentes práticas afectam a pegada de carbono da carne bovina”, explica o principal autor do estudo, Ricardo Teixeira, investigador do Técnico e do Centro de Ambiente e Tecnologia Marítimos – MARETEC.
O estudo com o título “Grazing or Confining — Decoding Beef’s Environmental Footprint” lnaça novos ângulos sobre a sustentabilidade da criação de bovinos e fornece informações essenciais para decisores políticos, agricultores e indústria da carne, orientando o desenvolvimento de estratégias para uma produção pecuária mais sustentável.
“Com a procura global por carne bovina a aumentar, optimizar os sistemas produtivos para reduzir as emissões sem comprometer a produtividade é fundamental. O estudo reforça que não existe uma solução única para a produção sustentável de carne — factores como as práticas de maneio, a escolha da raça e a qualidade das pastagens desempenham um papel crucial. Embora algumas das dificuldades na redução da pegada de carbono da carne bovina estejam além do controlo dos produtores, outras podem ser mitigadas através de práticas ambientalmente mais responsáveis”, conclui Ricardo Teixeira.
Assinam o estudo o investigadores Ricardo Teixeira, Tiago G. Morais, Manuel P. dos Santos, todos do Técnico / MARETEC, Tiago Domingos (Técnico / MARETEC e Terraprima) e Lúcia Barão (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa).
Instituto Superior Técnico