Coimbra  18 de Março de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

José Miguel Ramos Ferreira

Liderança regional: Coimbra não pode ficar para trás

14 de Fevereiro 2025

O distrito de Coimbra tem vindo a perder, de forma preocupante, o seu papel de liderança regional ao longo das últimas décadas. O que outrora foi um centro incontornável de decisão, influência e desenvolvimento, parece hoje assistir, com demasiada passividade, à transferência de relevância para outros polos do país.

Esta perda de protagonismo não pode ser vista de forma isolada. O país tem concentrado, cada vez mais, a maioria dos órgãos de poder e decisão em Lisboa, reforçando um centralismo que asfixia o potencial das restantes regiões. O que é particularmente alarmante no distrito de Coimbra é o facto de, mesmo dentro da lógica regional, termos assistido à transferência de direcções regionais e de instituições públicas que, no passado, consolidavam o seu papel enquanto motor do Centro de Portugal.

A referida tendência não se limita ao plano institucional. O distrito tem visto desaparecer figuras de destaque com influência nacional, o que contribui para o declínio do seu protagonismo político, académico e social. Esta erosão resulta, em parte, da incapacidade de projectar lideranças com o peso necessário para defender o seu papel no contexto nacional.

É neste contexto que surge uma nova preocupação: a possível perda da liderança do Turismo do Centro de Portugal. Trata-se de um dos sectores mais dinâmicos e estratégicos da economia nacional, com impacto directo em áreas como o emprego, o investimento e a coesão territorial que, por tradição, tem sido sempre liderado por uma personalidade do distrito de Coimbra.

Nos últimos anos, foi precisamente no sector do turismo que o distrito de Coimbra encontrou uma excepção a essa decadência que o atinge, graças ao ótimo trabalho de Pedro Machado, cujo mérito o fez Secretário de Estado do Turismo.

Perante a trágica morte de Raul Almeida, é altamente preocupante que a liderança da estrutura regional do Turismo do Centro passe para um autarca de Pinhel numa administração que ficará sem qualquer membro do distrito de Coimbra. Trata-se de um golpe profundo na nossa capacidade de influenciar o desenho de políticas públicas e estratégias de desenvolvimento regional.

Num processo desta natureza, as estruturas partidárias distritais não podem lavar as mãos nem demitir-se das suas responsabilidades. As comissões políticas distritais do PS e PSD têm um papel fundamental a desempenhar e não podem pactuar, de forma passiva – ou, pior ainda, activa – com esta perda de importância para o distrito.

Sejamos claros: o silêncio ou a indiferença das lideranças locais será cúmplice de um processo que compromete o futuro da região.

Coimbra, enquanto distrito, pela sua localização estratégica e pelo seu património histórico, cultural e académico, ocupa uma centralidade natural que deve ser preservada e valorizada. A região tem todas as condições para ser o epicentro da definição de políticas públicas eficazes para o Centro de Portugal.

Neste cenário, é particularmente inquietante a perspectiva de uma candidatura única para a liderança do Turismo do Centro, com um candidato totalmente afastado da dinâmica de Coimbra, resultado de um acordo entre o centrão político que poderá retirar essa liderança ao distrito de Coimbra.

A perda da liderança regional no sector do turismo não é um detalhe administrativo. Trata-se de um forte sintoma de uma tendência mais ampla de desvalorização do papel do distrito de Coimbra.

Sugestão da Semana: Festival Deniz-Jacinto de 7 Fevereiro a 2 de Março em Condeixa-a-Nova e 1.º Festival Literário de 17 Fevereiro a 22 de Fevereiro em Penacova.

(*) Advogado e gestor